Louis Claude de Saint Martin
Homem: sua verdadeira Natureza e Ministério
Sobre o Homem


A morte é compreendida em nossa obra; como ela é superada?

A morte mesmo, que também esta compreendida em nossa obra, é dirigida e graduada com a mesma sabedoria que governa todas as operações divinas. Nossos laços materiais são partidos progressivamente e de forma quase imperceptível. Crianças de tenra idade, emergidas em sua matéria, não têm idéia da morte porque a matéria não sabe o que é a morte, muito menos o que é a vida e o espírito.

Os jovens em quem o espírito ou a Vida começa a penetrar através de sua matéria, têm mais ou menos medo da morte, na medida em que estão mais ou menos imbuídos deste espírito ou vida e na medida em que sentem o contraste entre seu espírito e sua matéria.

Os adultos e os mais velhos cujo espírito ou vida se desenvolveu e que observaram fielmente a lei de seu ser, são preenchidos de tal forma com os frutos, quando seu curso termina, que olham para a demolição de sua cobertura material sem medo ou remorso, e até mesmo com prazer.

Este revestimento material, tendo sido perpetuamente impregnado com os frutos de suas obras, tem, ao mesmo tempo, quase imperceptivelmente se submetido à decomposição em sua fonte; se o tratamento restaurativo fosse seguido, encontraria naturalmente a sua dissolução final sem dor. O que pode ser concebido de mais doce e suave do que todas estas progressões, apontadas pela Sabedoria do Altíssimo, para a restauração do Homem?

Os poderes da Alma humana após a morte.

Mas se tão grandes são os prazeres adquiridos pela devoção ao Ministério Espiritual do Homem ainda neste plano, quais não serão então aqueles que a alma irá receber quando tiver se despojado de seus espólios mortais!

Vemos que nossos corpos, neste plano, estão destinados a desfrutar de todas suas faculdades e a comunicar-se uns com os outros. Quando eles não desfrutam de suas faculdades, não se comunicam, como verificamos com as crianças.

Quando alguns corpos utilizam suas faculdades e outros não, os primeiros podem se comunicar com aqueles que não se comunicam e os conhecem enquanto que estes nada sabem sobre os primeiros. Isto se aplica a lei das almas:
Aquelas almas que, neste plano, não desfrutam de suas faculdades estão respectivamente em absoluta insignificância; elas podem estar perto uma da outra, podem morar juntas sem transmitirem impressão alguma entre si. Esta é a situação da maioria das pessoas deste mundo, para não dizer, talvez, de toda humanidade; isto porque durante nossa jornada na Terra, nossas almas são umas para as outras, tal qual como as crianças; de fato, não comunicam nada em comparação com aqueles tesouros ativos com os quais deveriam ter enriquecido, naturalmente, umas as outras, se tivessem se mantido em sua harmonia primitiva.

As almas libertadas se comunicam entre si e com aquelas na carne.

Quando algumas das almas deixam seu estado de infância, ou seja, quando deixam seus corpos após terem se devotado, neste plano, ao verdadeiro Ministério Espiritual do Homem, desfrutam de suas faculdades após a morte, não é de se surpreender que são capazes de comunicar alguns de seus tesouros as almas ainda encarnadas, embora estas não compreendam nem a razão nem os meios desta comunicação, mesmo quando experimentam seus efeitos. Assim, uma criança pode sentir os efeitos salutares, que outro corpo de posse de todas suas faculdades possa comunicar a ela, embora não possa ver e nem saber sua origem.

Quando várias almas regeneradas desfrutam de suas faculdades ativas, após deixarem seus corpos, é normal que estendam suas relações (harmonias) entre si; isto parece tão natural que não há necessidade de buscarmos evidências na ordem física.

A admirável beleza de uma alma regenerada e sua comunicação.

Ora, não obstante à nossa degradação e ao pouco que podemos comunicar uns aos outros aqui na Terra, ficamos tão admirados quando reconhecemos as virtudes de nossos semelhantes e isto é apenas uma idéia de quão bela uma alma pode ser, (um daqueles frágeis galhos que a árvore do Homem ainda permite brotar de tempos em tempos) imaginem, então, a satisfação que nos aguarda na verdadeira região, quando nossas almas, harmonizadas e desengajadas de seus corpos terrestres, estarão juntas, comunicando, umas às outras, maravilhas adquiridas durante sua décima primeira hora e aquelas que nunca deixarão de descobrir nas regiões do infinito.

O amor de Deus e a insensibilidade do Homem, dois milagres.

Oh, Homem! você que deseja, ainda nesta vida, penetrar o glorioso Ministério do Senhor, pensa diariamente naquelas águas salutares, que, desde o crime, a bondade do altíssimo tem vertido, em todas as eras da espécie humana; pois já vistes o bastante dos caminhos de Deus para nos provar que Ele se importa, não só por toda a humanidade, mas por cada Homem em particular, como senão tivesse mais ninguém com quem se preocupar.

Assim, uma tocha no meio do círculo dos homens dá toda sua luz a cada um; assim o sol mostra toda sua face a todos que estão à sua vista; assim, a Fonte Divina de nossa admiração é universal e apenas tenta encontrar uma brecha nestas almas que irão se abrir para a sua Luz.

Mas após admirar esta fonte inexaurível, cujos tesouros foram derramados generosamente sobre o Homem em sua origem, no pacto divino e que desde a Queda, ainda tem se acumulado à nossa volta, que terrível remorso irás experimentar quando veres que, apesar destas riquezas, o Homem míngua em tal angústia e privação, que sua morada de trevas parece ter se fixado no desespero e na morte! O Homem abusou das dádivas superiores outorgadas a ele em sua glória; após o seu crime, abusou do amor que o seguiu em sua ignomínia. Quanto mais auxílios recebeu mais cresceu sua ingratidão; quando observamos este quadro descobrimos mais duas surpreendentes maravilhas: primeiro o milagre do amor de Deus para com o homem, apesar de nossos crimes e injustiças; segundo, nossa insensibilidade e desrespeito para com Deus, apesar de Seu amor e devoção por nós!

Conseqüências da insensibilidade do Homem; seu corpo é uma dor, suas vestes seu revestimento, sua vida é sua morte.

Não! nada pode superar estas maravilhas! E qual tem sido o resultado para o Homem, de sua incompreensível ingratidão? (dirijo estas lamentações a todos os meus irmãos que se sentem infelizes). Ao invés da superioridade sobre todas as espécies e que serviam para nos fazer caminhar, como testemunha, em todas as partes de domínio Divino, qual é a atual condição dos diferentes mundos e reinos dos quais somos compostos?

É supérfluo dizer que, desde nossa degradação, nossos corpos são vítimas diárias dos elementos que os consomem tal qual o abutre devorando as entranhas de Prometheus. Sabemos que o corpo do Homem é como uma ferida, sempre em estado de supuração, e que sua vestimenta é como um curativo cirúrgico que requer constante remoção e reposição, se é que se deseje evitar uma infeção.

Muito embora esta ferida não tenha aquela característica extrema, sabemos que, desde o crime, mantemos no seio de nossas substâncias constituintes, um veneno corruptivo que consome a carne secretamente; disto o Homem não pode se livrar, tampouco pode corrigir sua malignidade ou evitar seu progresso por um só instante, pois este veneno é o fogo consumidor sobre o qual repousa nossa existência; este fogo é reconhecido pelas ciências humanas, pelo menos por meio de seus efeitos, como o princípio de nossa destruição, quando os cientistas afirmam que a respiração animal nada mais é do que uma lenta combustão.

Quem não sabe que cada indivíduo que vagueia sobre esta superfície nada é além de um necessário instrumento de sua própria morte; que ele não pode desfrutar um sopro de vida sem o negociar pelo custo da vida; que um mesmo ato produz sua existência e sua destruição? Este é o revestimento de morte que o Homem colocou no lugar daquela forma pura e imortal que deveria ter traçado desde o tesouro divino através de toda eternidade.

Também é supérfluo dizer que para conter este fogo que nos devora, nada temos ao nosso dispor senão elementos corrosivos como ele próprio, que depositam seus sedimentos em nós diariamente e, tal como o fogo, nos dá a vida apenas se nos der a morte.

Então, que benefícios nossas doenças e enfermidades agregadas a estas imperfeições naturais conseguem tirar daqueles que se propõem a nos curar? As substâncias medicinais que empregam são infectadas da mesma forma que nossos corpos e toda a Natureza. Tais substâncias medicinais só podem ser úteis na medida em que possam estar num grau menos infectado que nós. Nada está realmente vivo tanto nelas ou em nós, ou no máximo qualquer vida ou poder que exista é relativo; é a morte comprometida com a morte.

Por que o Homem se envergonha de seu estado e de sua natureza?

Independentemente destas calamidades opressivas, temos vergonha de nosso estado natural porque somos obrigados a prover nossas necessidades de forma contrária a dignidade de nosso ser; porque nosso desejo não é suficiente para tanto e nosso verbo efetivo (ativo) não é mais sensível; porque todos os cuidados temporais e as vantagens efêmeras que buscamos incessantemente, são sinais de nossa reprovação e, ao mesmo tempo, de nossa dúvida com relação ao nosso Princípio, cujo auxílio criativo e vivificante nós perdemos desde a Queda; por fim, temos vergonha porque, de certa forma, ofendemos a Suprema Verdade na medida em que não trabalhamos em conjunto, pois para este fim é que foram criados o movimento, a existência e a vida; eles procedem e são mantidos pelo seu foco generativo universal, através do poder vivo.

Mas, o que é pior, embora não se perceba, é que permitimos que aquelas influências destrutivas (ações), aqueles germens dos poderes desorganizadores e criminosos, penetrem em nossas essências por todos os poros e sentidos; permitimos que tomem conta de nossos órgãos, tornando nossos corpos receptáculos e instrumentos de todos os tipos de abominações que atingem quase toda humanidade; isto é o mais deplorável, porque possuímos tanto o direito como o poder sobre nossas debilitadas essências que se encontram contaminadas por tais influências; não podemos evitar a sua dissolução, não podemos evitar que nos dê a morte enquanto nos dá a vida.

As causas de nossa sedução, lições a serem tiradas.

Qual é causa deste falso prestígio que começa por nos seduzir e termina por nos lançar nestes precipícios fatais? É que, infelizmente, ele tem origem numa fonte que se torna salutar apenas porque deve ter constituído nossa glória, se a tivéssemos mantido em seu devido lugar. É por esta razão que ainda é o espírito que opera em nós, embora seja de uma ordem inferior, quando ouvimos a voz ou a atração de um falso sentimento. Este espírito atua sobre os nossos e representa para nós, sensivelmente, regiões onde temos a ilusão de encontrar todos seus prometidos deleites. É por esse caminho que se insinua em nossas essências e causa sensações que nos cativam e nos ludibriam.

É apenas porque tudo é espírito que achamos tudo isto tão encantador. Contudo não nos damos tempo para discernir que espírito é este. Temos pressa de transmitir esta imagem viva que nos encantou, a um objetivo terrestre, que está sempre pronto para se associar a este sentimento. Neste ponto, a ação do espírito desaparece e a ação da Natureza toma o seu lugar; e, como ela é limitada, logo nos faz sentir sua limitação e sua futilidade. De tudo isto, podemos tirar três lições:
Primeiro, que o espírito inferior nos ilude duplamente, ao nos mostrar, espiritualmente, deleites que não conhecemos exceto pela matéria, naturalmente e quando esta matéria nos desaponta. Nada senão um espírito desordenado é capaz de produzir tal desordem e contra-senso. Um espírito regulador nos mostraria, através de imagens, grandes satisfações, próprias de nosso espírito, em nossas relações terrestres e, ao mesmo tempo, a natureza ilusória dos prazeres da matéria; não se deve abusar nem da matéria, nem do espírito, a ordem deve reinar em ambos.

A segunda lição mostra a razão pela qual os homens de idade avançada, que se tornaram escravos ou joguetes de seus sentidos, ainda desfrutam, em seus espíritos depravados, os deleites que sua matéria não mais pode realizar; isto nada mais é do que uma prolongação daquele primeiro sentimento, a ação do espírito inferior.
A terceira lição mostra a causa do desgosto que sucede nossas ilusões; não é através da matéria que devemos encontrar o êxtase.

A mente e o ser central do Homem estão escravizados; ele se tornou seu próprio inimigo.

Se observarmos o Homem com relação ao seu conhecimento e à sua mente, encontraremos mais razões para a lamentação; o veremos como um escravo do sistema e da conjectura; escravo de contínuos esforços no sentido de compor uma mera nomenclatura para suas ciências; escravo de nuvens de idéias conflitantes, que geram em sua mente mil vezes mais tormentas do que nossa atmosfera em suas mais violentas tempestades.

O que, então, não encontraremos se observarmos o mais íntimo de seu ser? O encontraremos mergulhado, não só no inferno divino, mas, com freqüência, em um outro ainda mais ativo, esperando unicamente pela ruptura de seus laços terrestres, para se unir completamente com este inferno, do qual é visivelmente o órgão e o ministro sobre a Terra.

Por fim, o que acontecerá quando o Homem se vir rodeado por domínios de todas as espécies, que nunca lançaram sequer um olhar para sua fonte do mal, e estes impediram a busca do medicamento? O que posso dizer a quem neutralizar os mais específicos medicamentos, substituindo-os por meros paliativos que podem até estar infectados ou serem prejudiciais? E o Homem, ainda pode ser insensível com relação a sua miséria e não tomar cuidado com os perigos que o rodeia!

Mas o que mais, que outro resultado ele poderia esperar após retribuir com ingratidão todos os ricos presentes que tem recebido da Generosidade Eterna?

Este Homem, que foi feito para apaziguar a ira de Deus, é o mesmo que a provoca continuamente, ao substituir a luz pelas trevas e as inumeráveis falsas influências pela verdadeira que carrega consigo. O Homem não tinha amigo mais próximo, neste plano, do que seu eu interior, para se inclinar a Deus, ouvi-lo e participar do fruto e maravilhas da admiração.

Ao invés de poupar cuidadosamente este recurso, fez de si próprio o mais próximo e mortal inimigo; o Homem tem se confundido com as bestas e cometido as maiores atrocidades decorrentes desta doutrina que acabou criando para si um inferno ativo, uma mera percepção de tudo o que deveria ter tido e que dura somente este tempo de provação. É que, temporariamente, ele é rodeado senão por auxílios: a Natureza lhe oferece suas abundantes colheitas; os elementos, suas reações salutares; o Espírito do universo, sua respiração e sua luz; os animais domésticos, seus serviços e dedicação; o Homem tem até mesmo os meios de desinfetar os venenos, subjugar bestas selvagens e ele só trabalha para se infectar cada vez mais.

Oh, rei do mundo! olhe para si em tão odioso e infernal estado em que não é rei nem de si mesmo; e de tudo o que compõem seu império, a única coisa que deves temer é a ti próprio; tu não podes olhar para ti mesmo sem horror! Pois está é a transposição de sua vontade, que desordenou todas as coisas; tudo sofre de forma universal só porque o Homem coloca suas falsas e mutáveis vontades no lugar da verdadeira e eterna lei, continuamente; e porque, não só governa as questões universais a seu modo mas também porque tenta compô-las para si, ao invés de simplesmente receber suas influências.

Sofrimento, o portão estreito pelo qual o Homem de Desejo agora deve passar.

Se, sob estas circunstâncias, um homem de fé (desejo) aspira ser um servo do Senhor, que meios poderia encontrar a fim de ajudar seus semelhantes nesta angústia espiritual e terrível perigo que ameaça o ser espiritual constantemente? Ele não teria nada a oferecer senão lágrimas, estremeceria diante da lamentável situação de seus irmãos e só poderia ajudar com seus soluços.

Oh, Homem de Desejo! lembre-se de que se a essência fundamental do Homem fosse trazida de volta a seus elementos primitivos, pronunciaria de forma natural e alimentaria continuamente a sublime palavra: Santo, Santo, Santo, para a glória de seu Princípio, sem interrupção, por todas as eternidades.

Em nossos dias, a linguagem do Homem, assim como o próprio Homem, sofreu uma espantosa mudança; contudo aquela linguagem primitiva, a linguagem da santidade e felicidade, pode ser recuperada, mesmo que as essências do Homem estejam reduzidas a não pronunciarem nenhuma palavra senão aquela do sofrimento (dor), que é sua sensação predominante e a qual estão mais suscetíveis. Ouça a esta palavra "sofrimento" com muita atenção quando ela falar em você; ouça-a como a primeira voz de auxílio que se pode fazer ouvir no deserto: junte este precioso e específico medicamento com muito cuidado, como o único bálsamo que pode curar as nações.

Desde a grande mudança, a vida da Natureza repousa apenas nesta base. Desde a degradação do Homem, não temos outro meio de sentir nossa existência espiritual e divina; tampouco temos outro meio de fazer nossos semelhantes senti-la. Este sofrimento é diferente daquela dor dos místicos que têm sustentado o amor até ao ponto de tirarem deleite de aflições; desta maneira acreditaram apenas em sua própria salvação e felicidade. Aqui, não há tempo de pensar em sua própria santidade, uma vez que estarás constantemente aflito e, por assim dizer, oprimido pelo peso desta cruz de poderes, que faz a vida se manifestar em todas as criaturas.

A obra do Homem de Desejo reage sobre o primeiro Homem ou em toda árvore do Homem.

Sem dúvida, este simples quadro deve ser suficiente para estimular sua devoção e inflamar sua coragem; que motivo maior pode haver do que trabalhar para o sabath do descanso da alma humana? Mas este motivo ficará ainda mais fortalecido e mais efetivo quando descobrir que tua obra não está restrita à posteridade, passada, presente e futura do primeiro Homem; mas que pode se estender até mesmo àquele primeiro Homem através da relação que ainda existe entre ele e sua posteridade; pois ele tem sofrido demais ao estabelecer contato com nossa atmosfera discordante, que não agüentaria por muito tempo se a mão do Altíssimo não tivesse amenizado seus primeiros acessos.

A semente prometida, destinada a reviver a árvore do Homem.

De fato, quando o primeiro Homem permitiu que os privilégios gloriosos que, por direito inato, deveria possuir eternamente, enfraquecessem e desaparecessem, o Verbo Eterno veio ao seu auxílio naquele lugar de bem-aventurança em que o Altíssimo o havia colocado e prometeu-lhe que a semente da mulher esmagaria a cabeça da serpente.

Através desta única promessa, Ele plantou em Adão o germe de sua restauração. Esta semente nunca deixou de ser regada com os auxílios espirituais enviados ao mundo, através do ministério de seus eleitos, até o dia em que Ele veio pessoalmente a fim de regá-la com seu próprio sangue. Mas o Homem, a árvore, ainda está encarregado de produzir seus frutos em, por e através de seus descendentes. O Verbo só poderia se dar ao Homem; Ele nunca poderia cancelar a lei pela qual a árvore deve manifestar aquilo que recebeu em sua essência, livremente.

Assim, é permitido avançar a cada dia em direção a era final, quando, se supõe que todos os galhos cumprirão a intenção beneficente de sua Fonte Redentora; pois foram destinados a mostrarem a majestosa árvore do Homem, tal como aparecia no jardim do Éden; além do mais, estaria adornada com os galhos resplendentes de toda sua posteridade, que deve seguir todos os seus esforços, visto que a obra é comum tanto aos filhos quanto ao pai.

Mas, ao contrário desta cooperação por parte da posteridade do primeiro Homem, o que é tão essencial, quantos crimes e desordens não derramaram nas raízes desta árvore antiga que deveriam ter como sagrada! Diante de tais substâncias heterogêneas e destrutivas, que progresso pode fazer a posteridade do primeiro Homem na senda espiritual? que galhos ou flores pode produzir? que frutos se pode esperar daí, quando chegar a época de colheita?

O Homem primitivo em seu leito de sofrimento e negligenciado por sua posteridade.

Oh, servo do Senhor! qualquer que seja seu sentimento de desolação ele é legítimo; contudo encontrarás também a mais tocante motivação para animar seu fervor, dentro do nobre caráter e importância de sua obra, que compreende nada menos do que contribuir para o repouso do chefe da espécie humana, através do anúncio a todos os seus filhos do quão sublime é o Ministério Espiritual do Homem!

Observe o Homem primitivo, deitado em seu leito de sofrimento, sofrendo mais por nós do que por ele próprio; olhe como contempla o sofrimento de cada membro de sua família, passada, presente e futura; ouça-o através do curso de longas eras, implorando para que, ao menos, não agravem suas feridas através de seus crimes, se é que não podem ajudar a curá-las através de suas virtudes.

Tente ter uma idéia de sua aflição quando, de toda sua numerosa posteridade a quem ele se dirige, não encontra um que dê atenção às suas queixas; nenhum que busque tomar parte de sua obra; nenhum que lamente a condição de sofrimento na qual ele definha; o que posso dizer? talvez não há um que não derrame fel e veneno em suas feridas.

Busque seu alívio, através do eu interior destes seus irmãos.

Deprimido pelos seus próprios sofrimentos, irá recolher-se em seu interior; do centro de seu santuário secreto, seu fervor o levará aos seus irmãos perdidos, insensíveis quanto às suas próprias enfermidades e quanto àqueles que se conduziram ao venerável tronco da espécie humana. Ali tomará seu posto, perto do eu interior de seus irmãos, como Jeremias no portão do Templo de Jerusalém.

Tu irás perturbá-los a fim de que empreguem suas mentes, incessantemente, ao exercício de seus sublimes poderes e à importância da Justiça.
Como atingir seu irmão e apresentá-lo num sacrifício a Deus que seja aceitável.

Diga a este ser interior que os frutos de seu campo são destinados a manter os suprimentos; que se ele se manter ineficiente e não prover sua parte da provisão, o sustento geral será prejudicado; que o campo inativo e desperdiçado, será coberto rapidamente por espinheiros e ervas daninhas que machucam as mãos ou cujas sementes venenosas espalharão infeção; que, a partir de então, irá em breve dar espaço a répteis venenosos ou a animais selvagens sempre prontos a devorar seu proprietário.

Diga a ele que se o cordão que nos conecta a Deus for rompido, estará sempre pronto a ser reatado; convide-o a provar que pela aliança Divina, a vida, a luz e tudo o que possa satisfazer nossa ânsia de admiração, será encontrado; diga que todos os frutos devem ser trazidos de volta ao Altíssimo, pois só Deus possui receptáculos capazes de receberem e armazenarem suas próprias safras.

Diga-lhe que tão logo descemos ao abismo, Deus desenvolveu ao nosso redor seu grande Arco-íris, ou aqueles inumeráveis graus ou passos setenários que estão sempre prontos a nos ajudar a ascender novamente, fora da cova; que o próprio Deus arma seus soldados com esses auxílios poderosos, exigindo que sirvam de acordo com suas armas e empregando-os de acordo com sua luz, força e habilidades.

Incite-o a ingressar no exército do Senhor, mostrando-lhe que sua mão poderosa nunca irá nos expor a uma obra mais severa ou perigosa do que somos capazes de suportar.

Se seu irmão ainda resistir, redobre seus esforços; faça uso dos direitos pertencentes a seu ministério a fim de conquistá-lo e expulse, pelo poder de seu verbo, todos os inimigos que tentam seduzi-lo e extraviá-lo diariamente; não descanse antes de conseguir trazê-lo de volta ao caminho da justiça e apresentá-lo "ao amigo do puro", como um doce sacrifício ao Soberano de todas as coisas.

Não será apenas por causa de teu irmão que irás te devotar à obra sagrada de fazer com que as almas guardem o Sabath, mas por causa do Deus Altíssimo, de quem queres ser o ministro.

De fato, aqueles que trabalham para preencher as vagas do exército do Senhor com almas que irão espalhar sua glória, distinguindo-se por estarem a seu serviço, são os servos mais amados do Senhor.

Deus busca um meio de penetrar a alma do Homem.

Também será por causa da triste morada do Homem, pois quando Deus não encontra, neste plano, uma alma em que possa entrar e pela qual possa agir, desordens são produzidas e se sucedem na Terra, a ponto de abalar o coração de todos aqueles que amam a Deus; isto prova que o crime do primeiro Homem, quando ele se esvaziou de Deus, foi seguir seu próprio espírito de trevas. Mas os abusos aos quais sua posteridade se dedicou o agravou; se o espírito do Homem se inclina todo de um mesmo lado, o próprio Poder Divino apoia inteiramente o outro lado e através de seu grande peso, penetra, pelo menos, em algumas almas humanas, a partir das quais, então, mais tarde, se emana, a fim de conter o excesso de mal e aprisionar a desordem; se assim não fosse o universo há muito já teria sido destruído.

A obrigação e a recompensa daqueles que se entregam à obra de Deus.

As almas humanas que seguem o ardor da Divindade, possuem pesadas obrigações a cumprir e grande trabalho a realizar; mas tem também altas retribuições a esperar, além de poderosos auxílios durante sua obra; eles são fortificados por um grande verbo de comando que, quando emitido, coloca toda sua força e poderes em ação e atividade; este deve ser a vida, a luz e o suporte do Homem, assim como, na ordem militar, a palavra de comando, consiste na segurança de todo exército.

Além do mais, não são estas almas abundantemente recompensadas pela felicidade de darem seu testemunho? pois aqueles que testemunharem serão reconhecidos como servos fiéis; é particularmente nas almas dos homens que temos que dar nosso testemunho. O testemunho que devemos implantar nas almas dos homens irá ressuscitar com eles e servir como evidência a nosso favor, pois, não só nossos próprios débitos poderão ser sanados como também poderemos ser recompensados.

Oh, servo do Senhor! faça todo esforço que puder a fim de ser enviado como testemunha e não permanecer sem consolo e esperança quanto ao futuro. Felizes serás se, a cada dia, for capaz de dizer: Eu não perdi o dia; fiz nascer uma testemunha na alma de um homem (no mais íntimo desta alma, mesmo sem que os olhos materiais deste homem nada tenham visto); e que através deste trabalho adicionei algo mais ao meu crédito para o futuro!

Podes até esperar que Deus te pague por este testemunho ainda neste plano, não apenas com as alegrias que Ele irá despertar em tua alma, mas até mesmo com os auxílios manifestos que Ele irá te enviar e com as obras divinas e maravilhosas que Ele irá fazer surgir de tuas mãos, como uma espécie de recompensa, retorno ou troca pelos serviços prestados a Ele em seu Ministério Espiritual do Homem.

A paga dos servos do Senhor: Alívio ao chefe da família humana.

Sim, se o Homem seguisse a linha do verdadeiro Ministério Espiritual do Homem, nunca com tão pouca coragem, logo descobriria que isto lhe daria menos trabalho e tomaria menos o seu tempo para operar um milagre, do que aprender, em todos os seus detalhes, a lista de ciências de que o Homem tanto se ocupa e na qual concentra todo o seu dia e o suor de sua fronte. Segue-se abaixo a lista de alegrias e recompensas com as quais Deus tem o prazer de nutrir as esperanças de seus servos:
Reação mútua de todos os poderes divinos associados a nós para produzir agradecimento;
Reação dos mesmos poderes para produzir resignação;
Reação, para produzir segurança;
Reação, para trazer à tona a prece em harmonia com toda criatura passada, presente e futura;
Reação, para produzir íntima e completa convicção;
Reação, para a orientação de todos os nossos pensamentos, passos e desejos;
Reação, para obter o dom da palavra (a parole), o Verbo;
Reação, para nos encorajar a falar com o Verbo, já que o Verbo fala conosco;
Reação, para que possamos suplicar o Verbo a fim de ouvir sua própria voz, no murmúrio que produz no meio de todas as nossas misérias e todas nossas enfermidades corporais e espirituais;

Reação, para obter a investidura, para que a distribuição ativa e eficiente dos poderes que administram, julgam, operam, executam e justificam aquilo que este Verbo vivo, movimentado pelo próprio orador, possa fazer descer nos centros onde ele habita e fermenta em nós.

Isto é o que o servo do Senhor deve fazer, aquele que atingiu, como testemunha, a alma de seu semelhante: desta forma, podemos fazer com que Deus participe de todas as nossas obras e nós participemos das Dele.

Oh, servo do Senhor! se obteres estes auxílios, poderás te aproximar, com confiança, do leito de sofrimento, no qual o chefe da família humana ainda está aprisionado por causa dos erros e máculas de sua posteridade.

Irás confortá-lo em sua aflição; irás aliviá-lo através de suas sublimes e santas obras, e ele irá regozijar-se de ver alguns de seus filhos participarem de seus cuidados.