Magia Divina, o princípio de ação.

Louis Claude de Saint Martin


Mas como o Espírito do Homem penetra até o Centro Universal, não devemos nos surpreender, ao vermos os homens tão fascinados e levados por seus respectivos dons, talentos e ocupações, a ponto de se devotarem a si próprios. Tudo isto aponta a um único termo, o de que a Magia Divina envolve, preenche e penetra todas as coisas.
Se os homens dirigissem suas aspirações, nunca com tão pouca constância, a qualquer das direções onde esta magia pode, provavelmente, ser encontrada (a propósito, a fecundidade das fontes divinas esta quase que em todo lugar, tanto na ordem espiritual como na ordem natural), não estariam longe de chegar a uma destas origens, das quais todas possuem a mesma magia como princípio, e eles rapidamente se intoxicariam com deleites, que embora venham de diferentes canais, todos têm o mesmo fundamento em Deus.
Os homens deveriam se emanar em satisfação
com tudo o que tem senão uma base.
Desta forma, os homens seriam todos um em seu entusiasmo, se olhassem para a unidade desta base e termo de todas as suas satisfações, o que nada mais é do que o movimento da Vida e da Luz eterna dentro deles, e assim, baniriam, rapidamente, todas aquelas rivalidades, ciúmes e preferências, que se reportam meramente a forma ou modo como estes prazeres os afetam.
Os eruditos têm procurado submeter as Belas Artes a este princípio, sem saberem; e ao mesmo princípio devem ser submetidas todas as ciências, descobertas, invenções e segredos, assim como todas as sublimidades dos homens de gênio, e todo o charme e o divertimento que comunicam a nós, aqui neste plano; pois, se o Espírito do Senhor preenche a Terra, não podemos nos movimentar sem entrar em contato com ele.
Ora, não extraímos a felicidade até mesmo da menor aproximação do Espírito do Senhor? E, como há senão um Espírito do Senhor, não deve repousar no mesmo fundamento todas as nossas bem-aventuranças, e serem radicalmente uma só?
A respiração ou o Espírito do inimigo.
O inimigo também possui uma certa aspiração de seu próprio espírito, uma respiração pela qual, ao invés de nos fazer triunfar, tenta nos submeter a seu falso domínio. Mas a respiração do inimigo, seu espírito, em resumo, não está livre como aquela do Homem. Portanto, enquanto somos vigilantes, ele não pode fazer nada, tanto na ordem espiritual, como na ordem da Natureza, pois não tem acesso ao ar, que, embora livre em si, esta fechado para ele.
Assim, os falsos e figurativos meios que ele emprega, podem representar projetos e princípios a serem exibidos a nós; mas não nos podem ser dados já que o inimigo não os possuem; ele não pode realizá-los, pois só tem poder para destruir e não para gerar.
O inimigo, desta forma, prova que seu crime primitivo foi o de ter desejado dominar a raiz das coisas e o pensamento de Deus; já que deseja, continuamente, dominar a alma do homem, que é o pensamento de Deus.
Oh, monstro! repleto de sangue, como pudestes tornar o inimigo do pensamento de Deus? Mas, tu, Oh, Homem! não eras também um pensamento do Senhor? E mesmo assim pecastes! Aqui o Homem de Desejo exclama: Oh, arrependimento! Deixe-me ser inundado pelas lágrimas; cubra-me, esconda-me da face do Senhor, até que eu possa ver o Homem, o pensamento do Senhor, limpo de suas máculas.
Deus, o purificador de Seu pensamento, a alma humana.
Nossa mente (espírito) está selada por sete selos; e os homens ao influenciarem uns aos outros, usam, de fato, as chaves, reciprocamente, com as quais podem abrir os selos uns dos outros: mas, para nosso pensamento ser puro, o próprio Deus deve purificá-lo, uma vez que só podemos viver por causa de nossa matriz.
E, quando Deus admite um homem na primeira posição, do Ministério Espiritual do Homem, é para transformá-lo num agente perspicaz e vivificante, cuja ação deverá ser universal e permanente; assim, os caminhos de Deus não são manifestados para fins levianos e transitórios. Portanto todo o Universo deveria ser o mesmo que nada aos nossos olhos, em termos de valor, se comparado com uma eleição como esta, se é que fôssemos felizes o bastante para que ela nos fosse oferecida; já que, a partir de então, poderíamos trabalhar com sucesso para o alívio da alma humana.
As aflições terrestres.
Tudo é Espírito na obra divina. Portanto as aflições deste mundo, guerras, catástrofes da natureza, que não são enviadas diretamente de Deus, não ocupam Sua atenção como a preocupação com as almas; e quando os homens massacram uns aos outros, ou seus corpos são vítimas de grandes calamidades, Ele sente essencialmente os males que suas almas sofrem; pois a alma é Seu pensamento, ela lhe é querida, e requer Seu zelo e ação.
As aflições servem somente para amadurecer o Homem, o Homem Espírito; em resumo, é dito a seus ministros e eleitos: todos os fios de cabelos de suas cabeças foram numerados, e que nem um deve cair ao chão sem Sua permissão.
Ele deixa aqueles que estão nas regiões dos poderes espirituais inferiores, serem comandados por aqueles poderes mais baixos.
Aqueles que estão ainda mais baixo, nas regiões da matéria pura, caem sob a classe dos bois; e, de acordo com Paulo (1 Cor. IX.9), Deus não se preocupa com os bois; embora o Espírito se preocupasse com eles no tempo dos Levitas, e com referência aos Judeus, que foram os apóstolos figurativos, mas não com referência a outras nações que buscaram os espíritos da abominação em seus sacrifícios.
Acrescentaremos ainda que Deus normalmente não faz nenhuma mudança no doloroso e desastroso curso das coisas, mesmo para Seus eleitos, aqui embaixo, mas apenas lhes dá força para resistirem: o que não impede Sua preocupação com suas almas e espíritos, em todos os casos, e sob qualquer circunstância, uma preocupação que nossas fracas compreensões não podem, conceber, e nem nossas línguas expressar, o objetivo é que Ele nos preserve somente dos verdadeiros perigos que nos rodeiam e que devem, unicamente, ser temidos, tão grande o Seu desejo de nos ver realizar o convênio divino presente em nossa origem, como poderemos observar daqui a pouco.
O Homem na infância.
Faço aqui uma pausa para considerar o Homem numa idade em que ele ainda não apresenta nenhuma daquelas lamentáveis características que temos observado, ou qualquer daqueles raios luminosos que temos anunciado como sendo o recipiente e o órgão.
Quando contemplamos as alegrias simples das crianças, como é possível imaginar os extremos da virtude e do vício dos quais o homem adulto é capaz, e que podem estar oculto e encerrados neste invólucro infantil?
Esta criatura, carregada como uma boneca, que explode em risos diante de uma bolha de ar, ou que cai na aflição quando perde um brinquedo; este ser pode, repito, algum dia estar tão desenvolvido a ponto de elevar seus pensamentos ao céu ou de olhar o abismo e compreender a correta execução dos decretos supremos sobre o secto dos fracos; ela pode se tornar um exemplo vivo do modelo divino para o mundo; ela pode exibir a grande penetração na ciência, e o maior heroísmo na virtude; em resumo, ela pode ser, de todas as maneiras, um modelo por excelência.
Mas esta mesma criatura pode vir a ser um modelo do contrário, e imergir na ignorância e no crime; ela pode se tornar a inimiga do Princípio que a gerou, o foco ativo da depravação e de toda abominação.
O contraste é tão dilacerante que é impossível observar, sem dor, que o pensamento destas ternas e inocentes criaturas podem, sobre este interessante exterior, conter as sementes de todas as doenças, e terminar numa vergonhosa degradação do coração, da alma e do espírito; seus frágeis galhos podem nutrir uma seiva pestilenta, a explosão daquilo que será somente a mais mortal, porque está atrasada e adiada para uma outra ocasião; ou seja, talvez estas criaturas contenham em suas essências um suco, doce e benigno no presente, mas que um dia pode se transformar no mais amargo e corrosivo dos venenos.
Como se pode imaginar que a ingenuidade desta criança, para quem o menor doce proporciona uma inocente alegria, possa ser transformada, algum dia, na ferocidade de um tigre; que ela possa se tornar uma perseguidora de seus semelhantes, e ser a vítima e o instrumento daquele inimigo, de quem somos todos escravos, como já afirmei, aqui neste plano