A queda de Constantinopla


Encerrada a fanfarra, os canhões dispararam. Maomé II prometera a todos, três dias de saque, mas alertou para que não depredassem os prédios, edifícios e templos. "A cidade é minha!", reiterou ele. Enquanto a infantaria turca buscava penetrar pelas brechas abertas nas muralhas, os janízaros subiam pelas longas escadas em direção às seteiras. Nem mesmo o terrível Fogo Grego, um líquido inflamável que queimava até sobre a água, jogado pelos cristãos lá do alto, conseguiu detê-los. Um esquadrão deles conseguiu saltar a muralha, e, suplantando a tenaz resistência dos bizantinos, correu para abrir um dos portões. Rompido o dique, fez-se a enchente. Milhares de soldados turcos esparramaram-se aos gritos pelas ruas e vielas de Constantinopla gritando vivas a Alá.


Quase toda a cidade, em meio aos horrores da pilhagem, dos estupros e dos assassinatos, foi tomada naquele dia mesmo de 28 para 29 de maio de 1453. A resistência cessara. Constantino XI morreu em meio as batalhas das ruas. Trouxeram a cabeça dele para o sultão, mas não houve certeza de que o achado macabro era mesmo do último autocrata do antigo Império Romano do Oriente. Um poder que durara exatamente 1.123 anos e 18 dias. Hagia Sofia, depois de despojada dos mosaicos e dos ícones virou mesquita muçulmana, sendo-lhe acrescentado quatros minaretes para os chamados às preces dos muazins, enquanto que o Bósforo tornou-se um lago turco.
Maomé II, a trote com seu belo garanhão branco, entrando na cidade tomada, desfilou por ela como o seu grande conquistador. E foi assim que o sultão passou para a História: Maomé II, o Conquistador. De fato, ele fizera o maior feito das armas turcas em todos os tempos. Entre os séculos XIX e XX, o Império Turco Otomano praticamente desapareceu do mapa, perdido em guerras contra outras potências ou por movimentos étnicos de emancipação nacional. Constantinopla, porém, rebatizada como Istambul, continua até hoje, passados 550 anos da conquista, a pertencer aos turcos.


Termos

Autocrata = de origem grega (auto + krátor), autoridade de um homem só, identifica o poder absoluto do imperador bizantino que reina sem nenhuma interferência de qualquer outro poder.
Basileu = rei em grego. Adotado também como titulo imperial em Bizâncio.
Bizâncio = antiga cidade grega rebatizada por Constantino como Constantinopla, no ano de 330
Bizantino = Império Bizantino ou Império Romano do Oriente, denominação adotada após a separação oficial entre o Império do Ocidente (Romano) e o do Oriente ( Bizantino), determinada pelo imperador Teodósio, em 395. Durou de 330 até 1453.
Bizantinismo = discussão inócua, sem sentido, sem objetivo, estéril, referente ao gosto dos bizantinos de manterem infindáveis debates sobre "o sexo dos anjos".
Cesaropapismo = concentração dos poderes temporais (César) e espirituais (Papa), situação típica do imperador bizantino que mantinha o patriarca subordinado a ele, fazendo da religião um assunto de estado e não do indivíduo. Símbolo do cesaropapismo era a águia bicéfala, escudo e bandeira do imperador.
Cisma do Oriente = separação das Igrejas Cristãs, ocorrida no ano de 1054, entre a fé católica (universal), predominante na Europa Ocidental, e a fé ortodoxa (a de linha certa, correta), com base em Constantinopla, expandindo-se para os Balcãs e para a Russia. Desde então, a Igreja Cristã viu-se divida entre a autoridade do Papa e a do Patriarca.
Monofisista = do grego mono + physis, uma só natureza, seita cristã ortodoxa do século VI, que considerava que Jesus Cristo tinha uma só natureza e não duas (a divina e a humana).
Patriarca = chefe da Igreja Ortodoxa, o papa da Igreja Oriental, sem ter porém a mesma independência do bispo de Roma.
Relíquias sagradas = culto e adoração a objetos que teriam pertencido a Jesus Cristo e a seus próximos, compreendendo igualmente as coisas dos santos e das santas, inclusive seus corpos ou parte deles.
Sultão = governante máximo dos turcos otomanos. Chefe de Estado e líder militar