O WILLERMOSISMO

Papus


Dos discípulos de Pasqually, dois merecem particularmente nossa atenção pelas obras que realizaram: Jean Baptiste Willermoz, de Lyon, e Louis Claude de Saint-Martin. Inicialmente iremos nos ocupar do primeiro. Willermoz, negociante Lionês, era maçom quando começou sua correspondência iniciática com Martinez de Pasqually. Habituado à hierarquia maçônica, aos grupos e às Lojas, concentrou sua obra de realização no sentido do trabalho em grupo. Tendeu, pois, a constituir Lojas de Iluminados; enquanto Saint-Martin dirigiu seus esforços para o trabalho individual.

A obra capital de Willermoz foi a organização de congressos maçônicos, os Conventos, permitindo aos Martinistas desmascarar previamente a obra fatal dos Templários e apresentar o Martinismo sob seu real aspecto de universalismo integral e imparcial da Ciência Hermética.

Quando foi iniciado por Martinez, Willermoz era venerável da loja A Perfeita Amizade de Lyon, cargo que ocupou entre 1752 e 1763. Essa loja filiava-se à Grande Loja da França. Em 1760, uma primeira seleção foi realizada e todos os membros portadores do grau de Mestre constituíram uma grande Loja de Mestres de Lyon tendo Willermoz como Grão-Mestre. Em 1765, nova seleção foi realizada através da criação do Capítulo de Cavaleiros da Águia Negra, colocados sob a direção do Dr. Jacques Willermoz, irmão mais moço de Jean-Baptiste. Ao mesmo tempo, este abandonou a presidência da Loja ordinária e da loja de Mestres, em favor do Ir\ Sellonf, para colocar-se na chefia da Loja dos Elus Cohens, formada com os melhores elementos do Capítulo. Sellonf, Jacques Willermoz e Jean Baptiste formaram um Conselho Secreto, tendo os irmãos de Lyon sob tutela.

Abordemos agora a natureza dos trabalhos realizados na Loja dos Cohens, falando mais tarde dos conventos realizados.

Constata-se nos documentos depositados no Supremo Conselho da Ordem Martinista, vindos diretamente de Willermoz, que as reuniões, reservadas aos membros portadores do título de Iluminado, eram consagradas à oração coletiva e às operações, permitindo a comunicação direta com o Invisível. Possuímos todos os detalhes relativos à maneira de fazer essa comunicação; mas esses rituais devem ficar reservados exclusivamente ao Comitê Diretor do Supremo Conselho. Podemos revelar, contudo, lançando grandes luzes sobre muitos pontos, que os iniciados davam o nome de Filósofo Desconhecido ao ser invisível com o qual se comunicavam. Foi ele quem ditou, em parte, o livro Dos Erros e da Verdade de Saint-Martin, que somente adotou esse pseudônimo mais tarde, por ordem superior. Provamos essa afirmação em nosso volume consagrado a Saint-Martin.

A mais alta espiritualidade, a mais intensa submissão às vontades do Céu, as mais ardentes orações a Nosso Senhor Jesus Cristo jamais deixaram de preceder, de acompanhar e de encerrar as reuniões presididas por Willermoz (4). Apesar disso, se os clérigos ainda desejam ver um diabo peludo e cornudo em toda influência invisível e se estão dispostos a confundir tudo o que for supra-terrestre com influências inferiores, só poderemos lamentar uma posição desse tipo, que possibilita toda espécie de mistificação e de zombaria. O Willermosismo, assim como o Martinesismo e o Martinismo, sempre foi cristão e jamais clerical. Ele dá a César o que é de César e ao Cristo o que é de Cristo; jamais vende o Cristo a César.

O Agente ou Filósofo Desconhecido ditou 166 cadernos de instrução, possibilitando a Saint-Martin copiar os principais. Dentre esses manuscritos, cerca de 80 foram destruídos nos primeiros meses de 1790 pelo próprio Agente, para evitar que caíssem em mãos de enviados de Robespierre, que se esforçou para obtê-los.