Mitra e seu Antigo Mistério
Por Monte Cristo SI


O Mito de Mitra pertence ao panteão horrivelmente complicado do atual Irã, mais precisamente a 1400 a.C., onde os deuses eram múltiplos e a obsessão pela pureza gerava um número impressionante de tabus. Não obstante nasceu nesta época a primeira religião universalista que prometia a salvação a todos os homens, de todas as condições sociais, de ambos os sexos, de qualquer proveniência.

Mitra é uma entidade, um deus solar anunciado mais de 1000 anos antes da religião cristã; sua vinda ao mundo nunca foi considerada humana.

A religião de Mitra foi trazida ao ocidente, segundo Plutarco, por piratas asiáticos. Ela conservava os problemas ligados à infâmia; pedia o respeito aos elementos, pois a limpeza do corpo está unida à do espírito e à da natureza. Além disso, o mitraismo procurava conciliar metafísica e ciência, o que ainda constitui a meta de algumas sociedades iniciáticas, dentre as quais as Fraternidades e Ordens Martinistas modernas, pois o Martinismo prega a conciliação da ciência e a religião, numa aliança indissolúvel.

Os adeptos da religião de Mitra viviam em comunidades e compartilhavam entre si todos os seus bens. O corpo, que segundo suas crenças, era o veículo da alma, não possuía senão uma importância relativa e a terra era considerada um lugar de exílio, tal como preconiza Saint-Martin, nosso Venerável Mestre e Martinez de Pasqualy.

Quando nascia, a criança era mergulhada em água e, depois comprimia-se em sua boca um pouco do suco de um arbusto denominado Hom. Um astrólogo olhava então a posição dos astros na exata hora de seu nascimento, e, de acordo com a localização dos planetas, atribuía um nome à criança. Aos trinta e dois anos, após preparações que iniciavam aos sete anos, podiam os mitrianos opta pelo começo da iniciação final, para tornar-se sacerdote instrutor, ou permanecer na sociedade. Sua decisão está livre de qualquer entrave, sendo totalmente respeitado seu livre arbítrio.

Havia doze graus de iniciação, abertos a ambos os sexos, e sem distinção de classe social. Os mitrianos ou mistas deviam difundir o saber conhecido do mundo, e a igualdade entre eles, fora às cerimônias, era total; o neófito era tratado da mesma maneira que o maior iniciado da comunidade.

Os que optavam por seguir pela senda dos mistérios teológicos e esotéricos, deveriam enfrentar o touro, matá-lo, comer-lhe a carne e beber-lhe o sangue. Mais tarde, na época áurea da religião de Mitra, esse rito sangrento foi substituído por uma refeição cerimonial com pães, que representavam o corpo e a terra, e representando o elemento puro, as cinzas; finalmente o fogo era representado pelo sangue.

O dia santificado do touro era o Domingo; os equinócios eram feriados. Esta religião tinha para com os outros cultos uma tolerância extrema e fazia pouco proselitismo.

Mesmo não sendo um observador muito atento, ou mesmo não estudando muito profundamente o Mito de Mitra, fica claro sua incorporação por parte dos Cristãos, quer seus símbolos ou seu rito, certamente o "empréstimo" mais importante foi à missa, o rito alquímico, o resumo de um caminho ou uma senda iniciática tradicional que a muito se perdeu para quem não a busca.

Notamos então, nesta religião uma preocupação especial pelo Sol, pelo seu símbolo e pela representação simbólica que apresenta. Foi absorvendo esta energia simbólica de um boi que Mitra se tornou um deus mediador. O mesmo Sol que gera vida e nos traz a Luz do mundo Astral, o mesmo sol que no Homem de desejo é fonte de vida e aspiração, o coração. Estudar então o significado deste Sol, de seu correspondente no arcano é mergulhar em nossas primitivas tradições e fonte de inspiração. Talvez este seja um dos mistérios de Mitra.

O Sol possui unanimidade quanto a sua correspondência na filosofia hermética, tanto Papus, quanto G. O. Mebes, dentre muitos outros não hesitam em relacioná-la com o arcano XIX do Tarô ou ainda com a letra hebraica Cuph. O estudo mais diligente desta relação nos revelará um importante ensinamento.

O arcano Sol tem como símbolo o machado, uma ferramenta humana. Este machado é a lei hierárquica que nos permite ultrapassar o "telhado da arte de raciocinar" e elevar-nos à luz da Verdade que nos fornece as possibilidades de abrir uma passagem em nossa compreensão, permitindo a chegada da luz em nossa consciência; esta luz nos mostra a possibilidade do aperfeiçoamento e reintegração ao mundo superior.

Desta maneira, precisamos conhecer os ideais elevados que o Martinismo nos apresenta, além disto, paralelamente, observar e estudar o nosso próprio egoísmo rasteiro para o poder, depois, ligá-los pelas grandes leis da ética.

É absolutamente necessário elevar-se da Terra para o lugar de direito a que todos nós almejamos, e se necessário, voltar do "Céu" para a Terra novamente, seguindo o ciclo evolutivo da desintegração, da diversidade e da reintegração, buscando sempre os princípios nas suas fontes, no alto, junto aos pés do Incognoscível e depois a aplicação quase inconsciente, embaixo, no plano de aplicação e de experimentação.

Tanto no Alto quanto no baixo existem quatro objetivos primordiais os quais são para os Martinistas resumidos em duas letras e alguns pontos:
a) A busca da Verdade
b) A aspiração em assimilá-la
c) A aspiração em transmiti-la
d) O desejo de sintetizá-la num sistema harmonioso
Os dois primeiros elementos são o Iod e o He, os dois últimos, dois Vav e He.

No campo da mente e no do coração existe um quinto elemento ativo, que é o próprio operador, no centro deste quaternário, na metafísica este elemento corresponde à inteligência do Adão decaído o Shim da materialização, do Adão que conhece a lei das duas colunas e consegue se equilibrar no caminho do meio.

O mito de Mitra, além de nos fornecer a base do cristianismo primitivo, também nos recorda, nos instrui sobre duas grandes verdades a que devemos nos manter zelosos, o respeito ás religiões e a todos os cultos, pois só existe um Deus, a Ele a humanidade determinou diferentes nomes e vários costumes sempre adaptados a sua própria sociedade, e o livre arbítrio, em escolhermos nosso próprio caminho sem interferência ou pressão.

Arcano Sol nos revela nossa responsabilidade em tirarmos da ignorância a todos os que buscam as verdades eternas, a necessidade da ética pessoal e da impessoalidade dos conhecimentos adquiridos.

O "Machado Copa”, o Mito de Mitra, o Arcano Sol nos dão acesso à Luz, nos resta usufruirmos desse acesso com Sabedoria e Inteligência, revivando-nos, a nós mesmos e apoiando nosso trabalho em realizações sólidas que nos permitirão o triunfo da reintegração da coletividade humana.

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