O GRANDE ARCANO DOS ARCANOS

Eliphas Levi


O grande arcano, isto é, o segredo indizível inexplicável, é a ciência absoluta do bem e do mal.
"Quando tiverdes comido o fruto desta árvore, sereis como deuses", diz a serpente.
"Se comerdes, morrereis", responde a sabedoria divina.


Assim, o bem e o mal frutificam numa mesma árvore e brotam de uma mesma raiz.
O bem personificado é Deus.
O mal personificado é o diabo.
Saber o segredo ou a ciência de Deus é ser Deus.
Saber o segredo ou a ciência do diabo é ser o diabo.


Querer ser ao mesmo tempo Deus e diabo é absorver em si a antinomia mais absoluta, as duas forças
contrárias mais tensas; é querer abrigar um antagonismo infinito.


É beber um veneno que apagaria os sóis e que consumiria mundos.
É vestir a túnica devorante de Dejanira.
É votar-se à mais pronta e mais terrível de todas as mortes.
Ai daquele que quer saber demais! Pois se a ciência excessiva e temerária não o matar o tornará
louco!


Comer o fruto da árvore da ciência do bem e do mal é associar o mal ao bem e assimilá-los um ao
outro.


É cobrir com a máscara de Tífon o rosto irradiante de Osíris.
É erguer o véu sagrado de Ísis, é profanar o santuário.
É proibido contarmos mais, terminaremos nossa revelação pela figura de três pentáculos.
Essas três estrelas dizem o bastante, pode-se compará-las àquelas que desenhamos no início de
nossa história da magia, e reunindo as quatro será possível chegar a entrever o grande arcano dos
arcanos.


Primeiro Pantáculo, a estrela branca
Agora, para completar nossa obra, resta-nos dar a grande chave de Guilherme Postel.
Essa chave é a do tarô. Vêem-se aí os quatro naipes, paus, copas, espada, ouros ou círculo, que
correspondem aos quatro pontos cardeais do céu e aos quatro animais ou signos simbólicos, os
números e as letras dispostos em círculo, depois os sete signos planetários com a indicação de sua
tríplice repetição expressa nas três cores, para significar o mundo natural, o mundo humano e o
mundo divino, cujos emblemas hieroglíficos compõem os vinte e um grandes trunfos de nosso jogo
atual de tarô.


No centro do anel, vê-se o duplo triângulo formando a estrela ou selo de Salomão, é o ternário
religioso e metafísico análogo ao ternário natural da geração universal na substância equilibrada.
c
s
t
n h v k t n h k t
a
h
,
n h v k t s n t h u
s u t h t h u s u t h t h


Em volta do triângulo está a cruz que divide o círculo em quatro partes iguais, assim os símbolos da
religião reúnem-se às linhas da geometria, a fé completa a ciência e a ciência dá a razão da fé.
Com o auxílio dessa chave pode-se compreender o simbolismo universal do antigo mundo e
comprovar suas surpreendentes analogias com nossos dogmas. Reconhecer-se-á assim que a
revelação divina é permanente na natureza e na humanidade; sentir-se-á que o cristianismo não
trouxe senão a luz e o calor ao templo universal ao fazer descer nele o espírito de caridade que é a
vida do próprio Deus
.

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