A perspectiva martinezista de Modelos
Ivan Corrêa


Em Teodiceia psíquica propomos uma análise da versão martinezista do mito judaico-cristão de criação, da organização do cosmos e da classificação dos seres que o habitam. Nessa obra, também nos dedicamos ao cuidadoso exame daquelas personagens que aparecem na exposição proposta por Martines de Pasqually ditas como modelos entre a posteridade adâmica de espíritos menores.

Todo leitor de Pasqually se deparará com a palavra "modelo" com extraordinária frequência em sua obra. Essa palavra aparece no Tratado fazendo referência a personagens bíblicos, a ações, a objetos, a lugares e, na realidade, é difícil encontrarmos na íntegra do texto de Pasqually alguma dessas coisas que mencionamos que não seja o modelo de alguma outra. Embora seja um adjetivo amplamente usado, Pasqually não se preocupou em precisar com clareza seu significado e o leitor, embora em um primeiro momento sinta um estranhamento, logo se acostuma com o termo e entende, mesmo que por vezes de maneira imprecisa, o seu significado.

No quadro a seguir, alguns dos primeiros modelos citados por Pasqually (2007):


Na totalidade do Tratado, podemos destacar dois momentos nos quais Pasqually se aproximou da explicação do que compreende por modelo. Como esses trechos estão em meio a outras discussões, em momentos adiantados do texto do autor, eles facilmente passam sem serem percebidos. Nos focaremos nessas importantes passagens. Eis a primeira:

Vedes por esse encadeamento que todas as épocas e as eleições primeiras repetem-se entre os homens e nos fazem saber que elas se repetirão até o fim dos séculos. A continuação desse tratado fará com que isso seja compreendido ainda melhor, pois mostrarei claramente que no fim tudo se tornará como no começo. Passemos à segunda posteridade de Abraão. (PASQUALLY, 2007, p.229)

A palavra-chave para compreendermos o significado dado por Pasqually ao termo modelo é "repetição". Repetição de eleições primeiras, como o autor especifica. No mito martinezista, tudo se inicia pela ação emanatória da imensidade divina e tudo um dia será reintegrado nessa mesma imensidade. Quanto aos modelos em particular, como o especificamos em nosso livro, eles surgem e começam a se repetir na história da humanidade desde a prevaricação e consequente queda do primeiro homem. O universo, então, funciona de maneira cíclica, bem como seus seres que repetem determinados padrões de acontecimentos. Considerando a partir de outra vereda, o ínterim que separa o início do fim é preenchido por acontecimentos e circunstâncias que se repetem.

Passemos à segunda citação, na qual Pasqually (2007) é muito mais específico do que na primeira:

Um modelo diz mais que um símbolo. Um modelo é uma figura real de um fato passado, bem como de um fato que está para acontecer em breve, enquanto o símbolo nada faz que dar informações sobre o modelo de um acontecimento futuro. Um modelo, em suma, superior à profecia, visto que as profecias são apenas ameaças para o futuro e podem ser retiradas pela misericórdia do Criador ou pela mudança de conduta do povo sobre o qual a profecia recai, ao passo que um modelo anuncia um acontecimento infalível e que está sob o decreto imutável do Criador. (p.182)

Conforme Pasqually (2007) expressa, um modelo é uma figura real, não uma alegoria ou uma imagem figurada. Ele de fato é algo que aconteceu no passado e que, em consonância com sua vocação para se repetir, voltará a acontecer no futuro. Uma vez que ele é superior ao que Pasqually (2007) compreendeu como símbolo e profecia e, estando sob o decreto do Criador, ele é imutável, infalível e inevitável.

O leitor de Teodiceia Psíquica pode se reportar a um quadro especialmente desenvolvido para destacar de maneira direta e precisa os modelos apresentados por Pasqually (2007) no decorrer de seu Tratado.

REFERÊNCIA

PASQUALLY, Martines de. Tratado da reintegração dos seres: em sua primeira propriedade, virtude e potência espiritual divina. Curitiba: Diffusion Rosicrucienne, 2007.

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