Da Extração das Essências e da Matéria na Indiferença.

Louis Claude de Saint Martin - O filosofo Desconhecido


Meus irmãos,
Vimos no discurso precedente o motivo da criação deste universo, ou do tempo, que não deve se compreender senão na duração sucessiva dos diferentes corpos que o compõe, que por seu curso de correspondência formam intervalos iguais cuja medida é o que se denomina vulgarmente o tempo. (Mostrarei, na continuação, como a alma está sujeita ao tempo enquanto está em sua prisão, ou no corpo do homem.) Porque não é necessário pensar que a Divindade possa ser encerrada por algum limite: sua imensidade sendo infinita, nenhuma criação pode contê-la; nem restringi-la. É, ao contrário, a Divindade que contém toda espécie de emanação concernente ao espírito, à criação e ao que diz respeito às formas aparentes. Isso é tão verdadeiro que um espírito puro e simples não poderia estar sujeito ao tempo, uma vez que estando sem corpo de matéria, nenhum corpo dessa matéria aparente pode lhe servir de limite, pois sua lei sendo superior à das formas, ele penetra através de todas as diferentes leis que formam a aparência das formas e ele as comanda e dirige segundo a vontade do Eterno. Eis porque nenhuma parte da criação pode ter sua existência senão pela operação desses mesmos espíritos; o que explicarei ainda melhor na seqüência deste trabalho, quando falarei dos corpos planetários. Continuemos a criação.

A matéria em sua indiferença residia no matraz filosófico, assim como explica a figura precedente. O Nada não possuía forma. As essências espirituais, sendo um aspecto umas das outras sem movimento, estavam nesse estado que se denomina vulgarmente caos. O que rompeu esse estado de indiferença e deu princípio à formação dos diferentes corpos? Foi a operação dos espíritos do eixo fogo central, ou fogo incriado, que haviam emanado de seu seio essas mesmas essências. Qual foi sua operação? Sua operação foi modificar as essências, de maneira a reter a impressão e de formar distinção entre às essências. É essa distinção que dá princípio às formas, adaptando as diferentes divisões e subdivisões do número ternário nas modificações que os espíritos do eixo haviam feito nas essências, isto é, que sua operação tornou a essência de mercúrio mais sólida que as do enxofre e do sal, a do enxofre mais móvel que as do mercúrio e do sal, e a do sal mais fluida que as do mercúrio e do enxofre.

Essa primeira distinção dá primeiramente nascimento ao número senário, uma vez que no primeiro princípio da matéria em sua indiferença, o misto ternário residindo em sua indiferença no matraz filosófico não formava nenhum corpo aparente, nem suscetível de reter nenhuma impressão. Foram, pois os espíritos do eixo fogo central aqueles que, conforme o pensamento do Eterno, que lhes havia sido anunciado por seu verbo ternário, engendraram por sua operação o número senário, dando a distinção às essências: mercúrio, 1; enxofre, sendo a segunda distinção, 2; o sal, sendo a terceira, 3. Ora, adicionando misteriosamente 1 e 2 fazem 3, e 3 mais 3 fazem 6. Eis, pois, a manifestação dos seis pensamentos do Eterno; e não dos seis dias que a Escritura atribui emblematicamente ao Eterno, uma vez que, como já disse acima, o Eterno sendo infinito em sua imensidade não pode ter nenhum limite de duração sucessiva, que não é senão a mudança de sucessão ou de relação, dos corpos uns com os outros. Mas o Eterno manifesta pensamentos como os diferentes espíritos executam segundo o plano que lhes é dado. Vemos, pois, que do número ternário veio o senário, uma vez que o verbo ternário do Eterno, estando toda eternidade nele, não pode ter princípio, visto que emanou do Eterno, mas o número senário foi engendrado pela operação dos espíritos do eixo; assim, provo por demonstração a necessidade do fim deste universo uma vez que ele não existe em princípio senão pela operação dos espíritos do eixo, e que a operação de qualquer espírito qualquer sendo finita, não pode durar senão todo o tempo que o Ser infinito o comanda; o que faz cair por terra a objeção da eternidade da matéria, visto que é impossível que tudo o que teve um princípio possa durar sempre, diante de toda necessidade ter fim.

Vemos, pois, o nascimento do número senário quanto às formas. É necessário não confundir os números com os corpos. O número, como já disse anteriormente, é co-eterno, pois, de toda eternidade, o número tem estado em Deus. Mas os corpos não sendo puramente senão aparentes, e não subsistindo senão pela operação dos espíritos, não podem se considerar senão como passivos. Desde que a operação dos diferentes espíritos será infinita, eles cessarão, e não será mais discutido sobre este universo como era antes de sua formação. Denomino a divisão das essências - mercúrio, 1, enxofre, 2 e sal 3 - o nascimento do número senário, uma vez que a operação dos espíritos do eixo que lhe deu nascimento. O princípio de todos os corpos foi, pois, o número ternário; a formação desses mesmos corpos o número senário, que realizou os seis pensamentos que Deus havia tido para a criação deste universo, manifestados aos espíritos agentes, fatores ou fabricantes do eixo fogo central. A partir do momento em que o número senário teve sua realização, as formas tiveram seu nascimento; e para melhor prová-lo, não se tem senão que observar o que segue sobre os três números 3, 6 e 9. O número é a subdivisão das essências em todos os corpos. O princípio de mercúrio é um misto ternário que contém nele enxofre e sal, 3; o enxofre contém sal e mercúrio, 3; o sal contém mercúrio e enxofre, 3. A subdivisão dá, pois, 9; porque a unidade propriamente dita não poderia pertencer aos corpos, ela não pertence senão à Divindade. A unidade atribuída na divisão simples à mercúrio não é considerada senão relativamente ao misto de mercúrio, que é a base das duas outras. O número 9 é, pois, a subdivisão das três essências, ou dos diferentes corpos, assim como segue: 3 à mercúrio, 3 ao enxofre e 3 ao sal fazem 9. Assim, 3 para as essências consideradas em sua particularidade, 6 para a divisão e 9 para a subdivisão; 3, 6. 9/18/9. Eis a origem da matéria.

Resta-nos falar do triângulo, o que faremos na seqüência. No momento, contentar-me-ei em considerá-lo por seu número 1 D 1: 1 a oeste, 1 ao sul e 1 ao norte dão o número 3, ou ternário, de modo que, acrescentando-o ao produto acima, temos: 3, 6/18/9, 3/12/3. Obtém-se o produto de 3, que nos faz ver claramente que o complemento da operação dos espíritos do eixo nos dá o número ternário após ter passado pela divisão e subdivisão, sempre para realizar a lei que o Eterno havia manifestado aos espíritos do eixo. O verbo do Eterno era ternário, e a operação dos espíritos do eixo também o era. Adicionemos o verbo 3 à operação dos espíritos do eixo, teremos o número 6. Ora, verbo ternário tendo vindo de Deus, deve retornar a ele, mas o produto ternário dos espíritos tendo vindo de Deus, deve retornar a ele, mas o produto ternário dos espíritos do eixo tendo tido início é passivo, ou deve terminar. Não havia ali senão o pensamento do Eterno, que forma a lei do universo, e que sustenta toda a criação. As leis de aparência dos diferentes corpos não podem durar uma vez que esta lei subsistirá, pois é ela quem sustenta essa mesma operação. O Homem de desejo que segue as leis do Eterno não poderia mais conhecer privação, visto que, unindo-se intimamente à lei eterna, a lei passiva das formas não poderia ser um limite para ele.

Vede, pois meus irmãos, um princípio da necessidade que temos todos de seguir essas santas leis, pois à medida que nos aproximamos do Eterno, a Luz se aproxima de nós. Se nós nos separamos dele, as trevas se apoderam de nós. Darei a explicação seguinte às diferentes dimensões do triângulo; no momento, continuarei ainda sobre a criação dos diferentes corpos.

Perguntar-me-ão, talvez, como os espíritos do eixo puderam emanar de seu seio as 3 essências, e como puderam através delas formar todos os corpos deste universo sem nenhuma matéria? Responderei que, desde o princípio de sua emanação, esses seres tinham inatos em seu seio essas três essências, que não devem ser consideradas senão como um produto de sua operação. É, pois, dessa operação única, segundo o pensamento do Eterno, que todas as formas tiveram lugar. Ora, direi que a prova física que esta operação dos diferentes espíritos é a única coisa que dá existência às formas, é que os espíritos que comandam os diferentes corpos deste universo não poderiam ser limitados por esses mesmos corpos, assim como se pode observar que existem homens que vêem no corpo de um homem a circulação do sangue, outros no corpo geral da terra a circulação das águas, outros que vêem, em um altar, ou em uma distância prodigiosa, corpos que os outros homens não poderiam perceber. As virtudes particulares a esses homens nos fazem ver bem que as leis da privação não são as mesmas entre todos os homens, uma vez que a maior parte dos outros homens estão privados de ver as coisas do qual acabo de falar. Se a matéria fosse real, todos os homens veriam da mesma maneira, não haveria para eles todos senão a mesma lei, assim como se pode se convencer pelo pensamento, que é o mesmo entre todos os homens nos objetos eternos como ele, tais como os números. O triângulo D , apresentado a todos os homens do universo, dá o pensamento distinto do número ternário, uma vez que um ângulo não é o outro, ainda que as propriedades dessa figura sejam imensas. Mas, no momento em que cada homem o considera, o pensamento que daí resulta pelos números é o mesmo. A superioridade dos homens vem pois, mais ou menos da pureza que lhes faz observar um maior número de propriedades. Ora, a particularidade distinta de cada homem no que se relaciona aos espíritos vem do pensamento, que é mais ou menos variado em suas propriedades sempre relativas à operação desses mesmos espíritos. A matéria não é, pois, senão aparente, e não subsiste senão pelo trabalho que os diferentes espíritos fazem para nós fazê-la parecer tal como é; não há nenhum dos espíritos que a operando não seja infinitamente superior a ela, uma vez que sua operação sendo finita, e sendo todos eternos, comandam a todos seus trabalhos, que não subsistem senão pela lei do Eterno e que não terão fim senão quando essa lei for realizada. É pois, meus irmãos, do número ternário que toda produção de forma se fez, assim como segue: 1 à Divindade, 2 ao demônio, e 3 às formas que vieram para conter esses mesmos demônios.

Os espíritos do eixo fogo central tiveram toda espécie de faculdade para a produção, a conservação e a reintegração dos diferentes corpos. Não é surpreendente que sua operação tenha produzido este universo, que foi criado para conter os primeiros espíritos perversos, e para servir de barreira a suas operações más, que não prevalecerão jamais contra as leis inalteráveis que o Eterno destinou a cada parte deste universo. O número ternário, como vimos, é a operação que os diferentes espíritos realizaram para conter a confusão. Igualmente, todos os esforços desses espíritos jamais destruirão algum gênero ou alguma espécie dos corpos que compõe essa criação, nem irão alterar em nada sua durabilidade, uma vez que os sustentáculos desses mesmos corpos são espíritos superiores a todos seus antagonistas e tendo Deus em sua mente, enquanto os espíritos maus são continuamente limitados em seus trabalhos de destruição, porque a destruição não podendo ter senão uma força limitada pela desunião que daí resulta, se encontra forçada a ceder à união indissolúvel das partes constitutivas do todo, operantes pelo apoio da Natureza, como se pode comprovar lançando uma olhada sobre as reproduções da vegetação. Se o semeador que semeia um campo semeasse trigo ou outro grão, e a metade da produção da vegetação de sua semeadura fosse boa e a outra estragada, não se poderia jamais tirar trigo da terra, visto que a podridão sendo igual à boa vegetação produziria uma mistura desigual que não daria jamais farinha. Ora, está demonstrado que se retira das diferentes sementes que semeamos sobre o corpo geral, ou a terra, mais bom grão do que grãos ruins, pois todos os seres de forma aparente que estão sobre a superfície da terra deles se alimentam. Essa indução pode nos levar a observar que o mesmo acontece para todos os diferentes corpos que são sem cessar atacados e que subsistem a todas as doenças. Entretanto, após o início deste universo, nenhum gênero dos diferentes corpos foi destruído. O que deve nos convencer da superioridade da operação dos espíritos operando para o bem sobre àqueles que operam para o mal: uma é benigna e pura, santa e durável; e a outra é impura e passiva, pois desde que o universo tiver feito sua reintegração, a operação dos maus espíritos contra ele terminará, ou, ainda, que aquela de todos os espíritos contra ele terminará, ou, ainda, que aquela de todos os espíritos bons que contribuíram com sua produção, sua manutenção e sua reintegração, começará um novo gênero de ações seguindo as leis santíssimas que agradará ao Eterno traçá-las. Eis, meus irmãos, pelo número ternário.

No discurso seguinte falaremos das diferentes propriedades do triângulo e da emanação do homem.

Convido a todos a uma união eterna e indissolúvel que nada possa alterar. Vossa constância em vos unir será o selo de vossa felicidade. Uni-vos a mim para rogar ao Eterno que nos dê a todos a graça de caminhar cada vez mais na Luz. A Ordem que abraçastes é a depositária da Luz que deve vos conduzir. Vossa exatidão, vosso zelo e vossa perseverança em segui-lo serão amplamente recompensados, e, enquanto tudo conspira para afastar o homem de seu princípio, sereis o depositário do rumo que deve ali conduzir o homem para não mais dele se afastar. Que a caridade esteja eternamente em todos nós.
Amém!