A Clarividência E A Clariaudiência

Por Robert Ambelain


Não devemos confundir Profecia e Adivinhação. Neste último domínio, as mil e uma formas mânticas permitem, pela interpretação de Entidades mal definidas, jamais do Plano Divino (todas dos "planos" intermediários), acessar de modo razoavelmente exato a um futuro mais ou menos próximo, também (e, mais exatamente), de reencontrar os elementos de um passado mais ou menos próximo.

Neste caso, a Adivinhação se utiliza de uma espécie de convenção pela qual os elementos codificados fazem o adivinho ou a adivinha acessar o modo de expressão de Entidades às quais já nos referimos. Estas se expressam por um simbolismo convencional, arbitrado, implícita ou tacitamente com o adivinho.
De modo oposto, no plano profético, as Escrituras tradicionais se nos apresentam sob três aspectos e três gêneros de interpretação diferentes.
Há primeiramente, o rô'êh, ou vidente, aquele que vê, com os olhos do espírito, aquilo que os outros homens não vêem. Há também o hôzeh, que é análogo ao primeiro, mas que serve mais especificamente para designar os profetas e adivinhos dos falsos deuses. Há enfim o nâbi, ou intérprete de Deus, que não é apenas aquele que vê, mas aquele que fala, não obstante, a linguagem divina. Neste último caso, e na maior parte do tempo, é necessário que seu verbo seja o reflexo de uma audição interior, mesmo que ela seja instantaneamente associada ao verbo do nâbi.

Portanto, o rô'êh é o que vê, exprimindo então em sua linguagem pessoal e de acordo com a necessidade, o que ele viu, ou o que concluiu de sua visão. E o nâbi é o que ouve, aquele cuja audição e elocução se confundem.
O que caracteriza estes dois arautos do Plano Divino, é que eles não se manifestam jamais por coisas sem importância, por problemas individuais ou excessivamente humanos. Eles são suscitados unicamente para fins gerais e para a defesa de interesses superiores e coletivos.

Desta forma, o Aspirante que verá se desenvolver nele uma destas duas faculdades: clarividência ou clariaudiência, deverá evitar colocá-las a serviço de problemas sem interesse espiritual. Não deverá ainda se imaginar como estando em necessária relação psíquica com Deus, com a Virgem Maria, ou com os grandes Arcanjos! E é aí que o dom do discernimento dos espíritos lhe será indispensável. Ele se lembrará que todas as manifestações de Entidades inferiores, e especialmente de Espíritos Tenebrosos, é sempre em um ponto qualquer, marcada pelo grotesco, pela inconseqüência, onde residem os gérmens da anarquia. Se os períodos de manifestação destas faculdades coincidem com um clima geral interior imoral ou amoral, se a sexualidade se revela muito exigente, se as teorias de facilidades acompanham este gênero de Fenômenos, que o Aspirante saiba bem que está sendo joguete de Entidades inferiores. Ainda mais se ele emite teorias particulares, favorecendo assim seu orgulho, se tem a impressão de ter sido escolhido por seus méritos e por suas qualidades intelectuais, se se crê chamado à modificar ou completar um corpo religioso qualquer, na verdade para deturpar os ensinamentos tradicionais, conhecidos por sua excelência e sua alta espiritualidade. O que caracteriza de fato o profetismo, é que integrado no quadro de uma Revelação, se ele fala realmente em nome dela, não saberia transformar por ela um espírito de contradição e uma fonte de desordem

O profeta é sempre o "possuído" do Espírito Santo, o adivinho é sempre o "possuído" de um Espírito Intermediário, o médium é sempre o "possuído" de um Morto. Situar as fontes de suas vaticinações respectivas, é situar o nível de suas espiritualidades. A Clarividência corresponde ao Mercúrio dos Sábios, e a Clariaudiência ao Enxofre dos Sábios.

Em conclusão, a mortificação dos nove Sentidos do Homem deve abranger o conjunto de suas atividades biológicas e psíquicas, portanto, sobre o Corpo e sobre a Alma. Pois é o Homem como um todo que, se não for absolutamente disciplinado, estará vulnerável à queda.

Sem dúvida, não é verdadeiro dizer que é a vontade quem peca, mas ela tem por cúmplices e por instrumentos o Corpo, com seus sentidos exteriores, e a Alma com seus sentidos interiores. Então, novamente, o Espírito é prisioneiro, e de uma prisão ainda mais sombria que a de antes.