A Cabala
Papus


Moisés dividiu seu ensinamento em duas partes, unidas por uma terceira:
l.° Uma parte escrita: a letra, formada por caracteres ideográficos de triplo sentido e constituindo o corpo.
2.° Uma parte oral, o espírito, constituindo a chave da parte precedente.
3.° Entre as duas partes, um código de regulamentos relativos à conservação escrupulosa do texto, formando a vida da tradição, tendo a jurisprudência como princípio animador.
O corpo da tradição tomou o nome de Massora.
A vida da tradição dividiu-se em Mishna e Ghemara, cuja união formou o TALMUDE.
Finalmente, o espírito da tradição, a parte mais secreta, constitui o Sepher Yetzirah, o Zohar, com o Tarô e as Clavículas em anexo.
O conjunto forma a CABALA.
A Cabala (a tradição oral) é a parte iluminadora de um ser místico constituído por Moisés sobre o plano dos seres criados. E, ao que saibamos, a única tradição que se apresenta com esta característica elevada e sintética. Essa é a razão de ser de sua unidade e de sua fácil adaptação à intelectualidade ocidental.
A Cabala é a ciência da Alma e de Deus em todas as suas correspondências. Ela ensina e prova que o Todo está na Unidade e que a Unidade está no Todo, permitindo, graças à analogia, que se re monte da imagem ao princípio, ou que se volte do princípio à forma. Uma letra hebraica é, para o cabalista, um pequeno universo, com todos os seus planos de correspondência, assim como o Universo é um alfabeto cabalístico com suas cadeias de relações vivas. Assim, nada é mais fácil de compreender, e nada é mais difícil de estudar, do que a Santa Cabala, centro verdadeiro de toda a iniciação ocidental.
Três planos de existência, chamados três mundos, manifestam a Unidade criadora fora dela mesma. Encontramos esses três mundos em toda parte, tanto em Deus como no Universo ou no Homem. Cada um deles manifesta os três planos de existência. Nós os encontraremos
integralmente num grão de trigo, num planeta, num verme, num sol, numa palavra humana assim como num sinal de escrita.
Assim, não é de admirar que os cabalistas tenham sido considerados, pelos pretensiosos e pelos ignorantes, através de todas as épocas, como ingênuos sonhadores, e como sábios prodigiosos pelos iniciados.
A posse das chaves cabalistas abre o futuro, o sucesso e o céu a qualquer religião, ou a qualquer fraternidade de iniciados. A perda dessas chaves condena à morte aqueles que deixaram apagar-se a preciosa luz.
Na época de Ptolomeu, os judeus não podiam mais traduzir o Sepher de Moisés; perderam sua vida independente aos poucos: só os essênios, que possuíam as chaves da Cabala, perpetuaram seu espírito graças ao Cristianismo.
Hoje, o Apocalipse está fechado para os católicos-romanos, assim como para os evangelistas protestantes, para os ortodoxos e para os armênios; as chaves estão perdidas para eles.
Dentro das lojas maçônicas, a acácia já não é conhecida; o coração de Hiram não foi conservado no vaso místico: ateus, ambiciosos ignorantes dizem INRI e riscam IEVE dos frontões de seus templos. São ainda mais deploráveis que o clero que injuriam, pois este conservou pelo menos a devoção que faz os santos, embora tenha perdido a tradição que faz os iniciados.
Por isso ainda é necessário falar um pouco de Cabala, embora já tenhamos esboçado alguns traços em capítulos anteriores.
Vejamos, pois, alguns dados sobre os três mundos em si mesmos, isto é, em seus princípios constitutivos e em suas tríplices manifestações.
As imagens ideais destas leis, de suas relações e de seus princípios são representadas pelas letras ideográficas da língua hebraica, as dez numerações secretas ou Sephiroth e as operações da Aritmética Sagrada.