Comunicações Espirituais Diretas, os mandamentos divinos

Louis Claude de Saint Martin


Mas quando estas punições não ocorrem, quando o perigo é ainda mais insistente, e aquele que é negligente, ao invés de sair do perigo, afunda-se cada vez mais, a ponto de arriscar a perder sua própria vida, então o professor, ou a mãe, vai pessoalmente, com autoridade, reforçar os importantes preceitos que havia apontado antes, afim de produzir pelo respeito, o que a bondade falhou em efetuar; esta é uma explicação positiva e natural de todos aquelas manifestações divinas e espirituais, das quais a história religiosa do Homem escrita ou não está repleta.
Sim, Oh, alma humana! este foi seguramente o caminho do Amor Supremo em direção a ti, quando viu que as grandes calamidades da natureza, que teu descuido havia provocado, não te tornaram mais sábia. Ele veio até a ti com afeições alteradas e assumindo um tom assustador, te lembrou daqueles antigos mandamentos ou regulamentos, onde tua própria origem e o convênio divino estavam baseados; regulamentos que Ele anunciou diante de ti quando lhe deu existência; regulamentos que Ele fez com que a Natureza proclamasse mais uma vez quando te sujeitastes a seus preceitos figurativos; regulamentos que podem, a qualquer momento, ressonar no mais íntimo de teu ser, pois tu ainda és, desde tua origem, o órgão da divina Fonte Eterna, e aquilo que o Eterno pronunciou uma vez, nunca pode deixar de ser pronunciado por toda a eternidade.
As tradições de todas as nações oferecem traços deste visível procedimento do Amor Supremo em nós; desde o princípio, Seu caminho tem sido o mesmo, tanto para com as nações como para os indivíduos, todos os dias, movendo-se através de movimentos secretos violentos, para despertá-los de sua letargia, e tirá-los dos perigos aos quais a insensatez os tem exposto; em resumo, foi neste e por este espírito que Moisés representa a voz do Supremo, anunciando em meio a relâmpagos e trovões, aos Hebreus, este imperativo e exclusivo mandamento divino, que as nações têm se esquecido tanto: "Não terás outros Deuses diante de mim".
Todas as coisas devem fazer sua própria revelação.
Independentemente de inúmeras outras lições instrutivas que a Natureza está encarregada, pelo Amor Supremo, a transmitir diária e fisicamente à alma humana, estamos intimamente convencidos de que todas as coisas devem provocar sua própria revelação, por nenhuma outra razão senão a de ter uma denominação entre os homens. Assim, as práticas religiosas tão universais entre os homens não permitem que nenhuma dúvida permaneça de que um caminho foi aberto pelo Amor Supremo através delas, para a cura da alma humana; embora estas águas curativas tenham se tornado tão sufocadas pelos danos, a ponto de dificilmente serem reconhecidas.
Todas as instituições humanas derivam de um
modelo superior: o poder do Homem.
Estando completamente convencido da rigorosa verdade de que todas as coisas devem revelar-se a si mesma sem o que nunca poderia ser conhecida, repetida ou comunicada, é preciso perceber que não há nada, nem mesmo nas políticas humanas e instituições civis, que não seja um modelo que se encontre independente e acima de nós. Se não houvesse legiões acima de nós, nenhuma diferença com relação aos níveis de superioridade, chefes e governos, nas alturas, não teríamos nenhuma destas instituições aqui embaixo. O próprio homem, neste plano, caminha sob os olhos e proteção dos poderes invisíveis, a quem ele deve todas as coisas, embora raramente procura conhecê-los; mesmo quando o homem fica intoxicado com seu próprio poder, isto mostra que ele deve realmente ter poder; ele deve ter um império, além de servos sinceros e obedientes.
Quando um superior, por exemplo, ou um general, se vê rodeado por seu exército, faz a revista e sente uma secreta satisfação e glória de ter à sua frente tantos soldados fortemente equipados e devotados as suas ordens; quando ele parece dizer a todos os espectadores: "Estas forças que comando não só dependem de mim, mas foram criadas para mim, e a mim devem tudo o que tem", ele meramente repete, numa ordem aparentemente convencional, que o Homem primitivo deve ter sido real, positivo e permanente.
A autoridade primitiva do Homem; no que consiste sua glória.
Este Homem primitivo teria tido também legiões, sobre as quais teria tido autoridade absoluta, comunicando a elas o seu espírito, como um general, por assim dizer, transmite sua vontade a milhares de homens sob seu comando, tornando-os um consigo mesmo, e tirando deles, de certa forma, suas próprias vontades, para dar-lhes somente a sua; de outra forma, seu controle sobre os soldados seria impossível e inexplicável.
Este Homem primitivo teria, igualmente, contemplado a si mesmo em sua legião, e assim teria obtido a verdadeira glória, porque poderia valer por algo que possuía, a beleza de seus exércitos, sua coragem ao defender a causa da justiça, ou seja, todas as maravilhas que poderia, de fato, fazer brotar de si mesmo e florescer em todos os seus subordinados à vontade. Ao invés disto, neste plano, suas legiões aparecem diante dele já vestida, armada e treinada; aqui, não é sempre ele próprio quem semeia aquilo que colhe, já que a maioria nunca tenha visto, e nem ao menos saiba o seu nome; uma espécie de conhecimento deveria ter constituído a verdadeira força do Homem primitivo, assim como venerar suas cortes.
Ora, o que dizemos aqui a respeito da ordem militar, pode ser dito de todas as nossas outras instituições, políticas e sociais; poderíamos dizer também em relação à Natureza, pois o Homem poderia ter cooperado com toda região e com todos os poderes, em cada ordem, para produzir aquelas imagens maravilhosas, aqueles sinais arrebatadores, que teriam enchido seus olhos, por todos os lugares, e preenchido seu coração com uma glória meritória e justamente adquirida, enquanto que, sem seu presente e limitado estado, o homem freqüentemente vale muito pouco em tudo aquilo que está a sua volta, e em tudo o que ele escala.
Mas se é do alto que o homem recebeu e ainda recebe tudo de melhor para o governo de seus semelhantes, quanto mais ele decifrar as alturas, mais boas coisas irá descobrir para seu próprio benefício, e da natureza humana; já que é das alturas que vem o processo de cura, enviado pelo Amor Supremo para a sua recuperação.
"Mysterium Magnum", de Jacob Boehme: A respeito de uma membrana religiosa aberta ao homem pelo Amor Supremo, convido o leitor a extrair, se puder, algo apropriado da obra de Jacob Boehme, Mysterium Magnum, o "Grande Mistério".
O leitor encontrará ali numerosas ramificações da árvore do convênio que o Amor Supremo tem renovado com o Homem desde a sua degradação. Verá ali a seiva desta árvore, manifestando-se, antes de tudo nas raízes, e então desenvolvendo-se nos diferentes brotos, na medida em que crescem e, finalmente, nas flores e frutos da árvore, desenvolvendo todas as propriedades contidas em seus gérmens, e trazendo-as à luz através de seus canais. Verá ali a verdadeira linhagem sob o manto daquela que é simbólica e, mesmo assim, uma só seiva corre através destas duas linhagens, simultaneamente e de forma distinguível, apesar das diversidades de características que possuem; assim, há uma harmonia entre todas as épocas que ela abarca em seu curso. Mas, o leitor verá também, uma seiva contrária, circulando da mesma forma pela terra, desde o momento em que fomos aprisionados nela e apresentamos, desde aquela primeira época, até os dias atuais, um santuário de abominações, ao lado do santuário da santidade. As descrições que encontrará neste autor, irão instruí-lo completamente, sobre o curso daquelas diferentes instituições religiosas que se espalharam pela terra; e fico satisfeito ao indicar tal obra, senão deveria transcrevê-la ou traduzi-la quase que inteiramente.
Instituições Religiosas: Sacrifícios.
Entre as instituições religiosas de modo geral, já estabelecidas sobre a terra, mas das quais nós quase perdemos os traços, o sacrifício de animais e outras produções da natureza tem um lugar proeminente, e merece ser considerado de forma detalhada, visto que nenhuma tradição ou observação nos tem oferecido qualquer coisa satisfatória, e mesmo Boehme é incompleto, embora tenha levantado alguns aspectos muito interessante sobre este ponto.
Não, não se pode negar, os sacrifícios são praticados de um modo geral, por todo o globo; eles devem, apesar do abuso, e talvez mesmo através deste abuso, ser colocados entre os nossos privilégios, e incluídos entre os auxílios concedidos a nós desde a Queda, pela Sabedoria Divina, para a renovação, tanto quanto possível, de nosso pacto divino; e, como tal, eles chegam com o consentimento do Homem Espírito.
Homem, um Rei subjugado pelos seus próprios súditos; a escravidão da natureza animal, como meio de sua recuperação. O Espírito de sacrifício.
Apesar dos esforços incessantes da falsa filosofia para extinguir a sublime natureza do homem, é tarde demais para questionar se ele nasce ou não para um grande destino; e o inestimável valor dos presentes que o homem ainda pode descobrir em si, mesmo em sua miséria, é uma indicação daquilo que pode formalmente ter possuído na liberdade e abundância.
Não devemos temer o erro, se considerarmos o Homem, no seio do Universo, como um Rei culpado, sujeito ao poder de seus próprios súditos, os quais ele próprio levou a desordem e anarquia, através da injustiça de seu governo; mas acima deste mar agitado, podemos discernir a eterna razão das coisas, tendendo através do imutável peso de sua sabedoria, fazer com que todas as nossas faculdades desarmonizadas recuperem sua calma e equilíbrio.
Talvez, possamos até mesmo reconhecer que, em seu estado primitivo, antes da Queda, o homem possa ter tido também um ministério de sacrifício a completar; não expiatório, pois ele era puro, mas sacrifícios de glória a seu Princípio; não sacrifícios sangrentos, mas sacrifícios de admirações divinas que estão encerradas em todas as criaturas e as quais o homem teria tido o poder de desenvolver diante de Deus, que o incumbiu deste ministério; é o Homem sendo, por assim dizer, estabelecido no centro da criação universal.
Mas enquanto estamos ocupados com os sacrifícios em uso sobre a Terra e seu significado particular, seja físico ou espiritual, veremos o Homem fortemente preso ao sangue, que parece ser o órgão e um recurso, ou domicílio, de todos os seus inimigos aqui embaixo, o sepulcro da escravidão, no qual este Rei idolatro está sepultado vivo por ter tentado contrapor os decretos da Providência, e cultivado deuses estranhos.
A lei que condena o homem à escravidão tem por objetivo mantê-lo em privação, para que esta privação o leve ao arrependimento e, do arrependimento à confissão de suas faltas; esta confissão pode colocá-lo no caminho que leva ao perdão; e, como o zeloso cuidado da Sabedoria Suprema, com este infeliz exílio, é incansável, ela o provê de meios para curar os males a que esta exposto diariamente pelas mãos de seus inimigos, e para preservá-lo de seus ataques; finalmente, ela o provê de meios de consolo em meio à sua miséria; e iremos nos esforçar aqui para mostrar que este foi o espírito da instituição dos sacrifícios, por mais absurda ou impiedosa que aquelas cerimônias possam ter se tornado ao passarem pelas mãos dos homens, e ao caírem sob o controle do mesmo inimigo que pretendiam expulsar.
Unidades de ação no Universo e na Natureza.
Uma positiva e bem conhecida lei, que retrato aqui aos amigos da sabedoria, como uma das mais úteis luzes em sua senda, é que, apesar das inumeráveis diversidades das criaturas e classes que compõem o universo, há certas unidades de ação que abarcam todas as classes, e agem sobre os indivíduos destas classes, por uma analogia natural.
É por isso que, em todas as produções da natureza, há gêneros, espécies, famílias, todas carregando a marca desta unidade de ação, cada uma de acordo com sua classe.
Os poderes e faculdades de nossas mentes, apresentam a mesma lei, mostrando uma espécie de uniformidade nos movimentos dos pensamentos dos homens, e reduzindo todo os seus sistemas a um número limitado de teoremas e axiomas, e todas as suas instituições a fórmulas fundamentais, que dificilmente variam uma das outras. A arte medicinal, a moral, a política, assembléias científicas e deliberativas, coisas pertencentes à ordem religiosa, e, se posso assim dizer, até mesmo as coisas pertencentes à ordem infernal, tudo testemunha a favor deste princípio.
Através desta lei de unidade de ação, a mesma ação física que rege o sangue do homem, rege também o sangue dos animais, pois os corpos de ambos são da mesma ordem.
Mas, se a mesma ação física governa o sangue dos homens e dos animais, esta ação está, sem dúvida, exposta as contradições e desordens a que os dois estão sujeitos; e esta lei física, embora não esteja baseada na liberdade, como estão as leis morais, pode contudo sofrer desordens, pelos obstáculos e oposições que envolvem e ameaçam tudo o que existe na Natureza.
Se estes diferentes indivíduos, homens e animais, estão sujeitos as mesmas leis, dentro das desordens a que estão expostos, por outro lado, eles também participam nas perfeições da unidade da ação regular que os governa; e, se a desordem é comum a ambos, a restauração deve ser também, assim tanto o espírito como o uso de sacrifícios podem ser compreendidos; mas isto não seria suficiente, se não pudéssemos descobrir, como estes sacrifícios operam neles próprio, e como seus resultados podem afetar o homem
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