A queda e o tratamento.

Louis Claude de Saint Martin


Quando caímos de uma certa altura, ficamos tão atordoados que perdemos a consciência; é somente no instante do choque, que o agudo sentido da dor toma conta de nós, depois normalmente ficamos sem movimentos e insensíveis. Tal foi a história da alma humana quando pecou: ela perdeu a vista da região gloriosa de onde caiu, e o Homem permaneceu morto, em sua totalidade, e privado do uso de qualquer faculdade de seu ser.
Mas o processo curativo de tratamento também foi similar à nossa prática humana. Da mesma forma que quando o homem sofre um grave acidente, o médico o sangra profundamente, para prevenir inflamações, assim, após a terrível queda da raça humana, a Sabedoria Divina tirou do Homem quase que todo o seu sangue, ou seja, sua força e seus poderes; de outra forma, este sangue, não encontrando mais os órgãos em condição de cooperar em sua ação, os teria destruído completamente.
É certo que esta precaução indispensável por parte do médico, pode reduzir a vida futura do paciente, que talvez pudesse ter sido maior. Pela mesma razão, Deus tem encurtado nossos dias, como encurta a duração do Mundo, em favor daqueles chamados de eleitos, sem os quais nenhum homem poderia ser salvo.
Conforme o regime médico, líquidos espirituais também são ministrados para nos reviver; após isto, ungüentos curativos são aplicados; e, finalmente, alimento substancial nos é permitido para restaurar nossas forças.
Quando, na branda efusão do Amor Supremo, os primeiros tratamentos foram aplicados à alma humana, ela recuperou seu movimento, o que a possibilitou progredir no caminho da instrução através do movimento que rege o universo; pois estes dois movimentos deveriam ser coordenados. Nós, de fato, buscamos, a cada dia, sintonizar nossos pensamentos com tudo o que se move no universo; este foi um favor especial à alma humana, que proporcionou meios para que pudesse contemplar a verdade nas imagens do mundo, depois de ser banida da realidade.
A alma se tornou sujeita ao universo físico sua
primeira lei segue a este fato.
A alma humana sabia, em sua glória, que não deveria ter nenhum outro Deus senão o próprio Deus; e embora ela não pudesse conhecer a plenitude de sua glória até que completasse sua obra, ainda assim, por menos que tenha provado das maravilhas e bondade divina, sabia perfeitamente bem que nada mais se comparava a elas.
No entanto, esta alma sujeita a ser infectada pelo poder de um princípio inferior, a saber, este mundo físico universal, onde o sol e as estrelas exercem tão majestoso movimento, se tornou corporeamente sujeita aos seus preceitos. Mas, embora ela tenha caído sob esta regra inferior, que foi parte de sua degradação, a Fonte que produziu a alma humana não permitiu, de forma alguma, perdê-la de vista, transmitindo-lhe, nesta nova ordem das coisas, o preceito fundamental de sua primeira lei: "Não terás outros deuses diante de mim".