A Instrução Pagã e a Educação Cristã
Marquês de Saint-Yves d'Alveydre


Definição do Paganismo. - Seu Caráter. - Sua Essência é a Anarquia. - A Vontade Humana Erigida em Princípio. - A Trimurti de Krishna. - Os Sudras. - A Mentalidade da Terceira Casta. - Sua Rejeição pelos Corpos Religiosos. - O Milenar Paganismo do Mediterrâneo. - O Paganismo Domina o Clero e a Instrução há mais de Quatro Séculos. - Instrução Exclusivamente Pagã. - A Educação Religiosa Reduzida à Catequização. - Desequilíbrio em Pavor do Paganismo. - O Ser e o Possuir. - Frinéia e o Areópago. - O Paganismo Experimental na Criança. - O Pai e a Mãe; seu Papel. - A Escola da Vida. - Onde Encontrar o Espírito de Vida? - A Riqueza. - A Evolução Pagã da Criança, - O Sacerdote; seu Papel. - O Catecismo - A Universidade. - A Possessão Pagã.
O Paganismo é um estado mental e governamental que vai da gema à árvore silvestre.
Sua fórmula é: Primo mihi et sequere naturam. Sempre é sintomático, não de uma evolução, mas de uma revolução. Vem de uma instrução corrompida, fruto de uma educação viciosa. Uma é como a outra, como o possuir e o ser, e ser corrupto, seja por si mesmo ou seja por seu intermédio, corrompe tudo até mesmo o verdadeiro possuir, principalmente o falso.
Seu caráter é ser filosófico e político, anti-religioso e anti-social. É filosófico e anti-religioso porque subordina a razão universal à individual, a dois critérios: objetivo da primeira, e subjetivo da segunda. É político e anti-social porque essa subversão do entendimento provém da suplantação da vontade, e porque tende a tomar por todos os meios a Legalidade para fazer oposição à Legitimidade.


Suas crises históricas são periódicas, crônicas em sua causa ontológica, e esse estado mórbido é natural ao espírito humano decaído, privado de seus dois verdadeiros critérios: a ciência e a Vida, que estudaremos mais adiante.
Ousou levantar seu próprio sistema de Filomania,15 com o nome de Filosofia ou até mesmo de Teosofia; sua essência é a anarquia, e esta é: Fiat voluntas mea! É a vontade do homem. Fazer disso um princípio e colocá-lo numa balança com um ou muitos derivados da palavra Providência e Destino é não reconhecer princípio algum. É como criar três deuses, dos quais dois ficam sobrando, e essa é, realmente, a essência intelectual do Paganismo, tendo o politeísmo como o grau mais alto.
Fabre d'Olivet, sobre o qual voltaremos a falar depois, seguindo outros autores, atribuiu esta doutrina a Pitágoras, porém essa nunca foi a doutrina desse grande homem. Ele conhecia bem a fundo a Trimurti,16 pela qual, sob diversos nomes, na Índia, na Caldéia, no Egito, haviam substituído Krishna à Trindade Patriarcal da Proto-síntese referida por São João.
Independentemente da concessão que o fundador do Brahmanismo atual tenha querido fazer, cinco mil anos atrás, ao estado mental dos letrados sudras, nunca pretendeu dizer que Brahma, Shiva e Vishnu não fossem outra coisa que a personalização dos três Poderes de um só e mesmo Deus Criador, Transformador e Conservador, e essa mesma Tríade não é mais do que a inversão desejada da Trindade anterior, que descuide desde o princípio eterno até a origem temporal das Hierarquias Criadoras,17 dos seres e das coisas; do Universo Divino ao Universo Astral; da Biologia para a Fisiologia; do mundo das espécies para o embriogenia dos indivíduos; da involução para a evolução.
A mentalidade desta terceira casta usurpadora, dos sete sudras, correspondia apenas ao ensino primário antigo e a uns poucos fragmentos do secundário. Sua ganância homicida tinha invadido e aniquilado o Estado social das duas penínsulas, suas metrópoles contemporâneas de Nínive e da Babilônia, a Aliança Templária dos eslavo-arianos, argianos, aqueus e dos pelasgos indianos reconstituída por Orfeu, o Ribhou dos Vedas. Eles tinham fechado seus sentidos correspondentes aos graus superiores da Revelação, tanto no Direito religioso como na Ontologia.


Com raras exceções iriam expiar, de metrópole em metrópole, o preço das mais rudes provações, suas anatematizadas origens de yavanas, de mlechtas, de pinkshas, de Sudras e de revolucionários hyksos.
Foi isso o que Pitágoras fez durante mais de vinte anos, outros dizem que são quarenta. O postulante era admitido, depois de todas as purificações físicas, morais, intelectuais e espirituais, aos corpos eruditos religiosos, mantendo-o por um longo período de observação antes de reabrir nele os sentidos íntimos da graça e da vida superior. Na maioria dos casos, eles somente revelariam isso aos internos.
Quanto à massa instruída, degenerada do Verbo Órfico dentro de sua própria verbosidade, estava mais longe da Verdade, que é a Vida, que seus últimos escravos. E assim que nunca viram na sua Filosofia mais que sua própria Filomania de desafio, de casuística, de uma dialética sem fim, de uma anarquia mental e governamental. E, apesar de tudo, essa plebe intelectual se transformou na classe dirigente, permanecendo sempre curiosa, ao mesmo tempo que profanadora da perdida Sofia.
De Pitágoras a Hiérocles se estende todo um horizonte entre os estudos greco-latinos secundários e os superiores, onze séculos se passam contra sessenta, que contam a História melhor documentada de nossa humanidade terrestre, já que ela, exceto nos Livros sagrados, não ultrapassa seis mil anos.
Faz quatro séculos que este Paganismo milenar a favor da escravidão, da burguesia anti-social, é o único que impera na mentalidade da população e dos dirigentes governamentais, bem como em todas as Universidades européias, tanto sacerdotais como laicas.
Tanto o Clero como a Instrução, cuja diferença trataremos em outra ocasião, usam o mesmo clichê da anarquia em tantos livros quantos são os educandos. Estes, por sua vez, consentem em tudo: arte e vida, ciência, legislação, política e costumes. Mas, quanto mais longe vamos, mais diminui o modelo da imitação, estéril e mortal, do gênio cristão da nossa raça nesta era.


Cada pessoa instruída, alfabetizada dessa forma, desde o príncipe herdeiro de um trono até o último bolsista que estuda nos seminários ou nos liceus, recebem a mesma instrução vulgar, fruto da mesma mentalidade banalizada. A educação difere um pouco nas casas onde o verdadeiro espírito cristão está mais arraigado. Mas essa possibilidade é cada vez mais rara, podemos dizer que é até mesmo uma exceção, principalmente em razão da discrepância das fortunas, da erradicação das existências, da anarquia econômica, fruto desse sistema clássico, incapaz de governar o mundo que procura governar. Em todo caso, a instrução e a educação religiosa são limitadas para todos, indistintamente, à pura e simples catequização.
Colocando-se esses fatos numa balança, eles nos mostram que pendem a favor do Paganismo, com uma enorme diminuição em detrimento do Cristianismo. É então a demagogia intelectual dos pagãos, fracamente temperada com uma pitada de Cristianismo, que predomina tanto nos tronos europeus como em todas as cátedras de instrução, incluindo os elevados estudos das religiões comparadas, ponto culminante dessa anarquia.
Não é necessário ser um grande clérigo para ver como resultado que a luz dos mistérios do Pai e do Espírito Santo está totalmente ausente, desde os mais baixos aos mais elevados escalões dessas hierarquias laicas. Ao mesmo tempo, a luz contida nos mistérios do Filho, pontífice e Rei do Universo, Verbo Criador, Encarnado, Ressuscitado e Glorificado, é completamente obscurecida por esse Paganismo mental e governamental.
Porém, a Instrução foi feita para a vida, e não o contrário. Da mesma forma, a lei foi feita para o homem, e não o homem para a lei, de acordo com as palavras de São Paulo.
O método do Verbo é sempre aquele que formula em todas as coisas da vida, e se trata aqui da vida social. A educação prima, pois, sobre a instrução, porque a primeira aponta ao ser e segunda ao ter. Uma é essencial, a outra é auxiliar. Mas o caráter do espírito clássico é o de substituir com suas tagarelices ao Verbo e suplantar o espiritual para usurpar o temporal. Quer ser ao mesmo tempo a razão que ensina e a razão de Estado, cabeça e braços seculares. É, pois, exclusivo da educação, porque a imitação política dos pagãos é exclusiva do ser, e não leva mais a uma possessão demoníaca.
Podemos possuir bilhões e não sermos nada. A pessoa pode não ter nada e ser de um valor incalculável. Assim, o valor da instrução depende do erro que se faz dela, como a fortuna, o talento e a beleza.


Quando os helenistas do Areópago absolvem Frinéia de todos os seus crimes, porque ela deixa cair suas vestes até os pés, Têmis18 marca nas costas esses javalis da Vênus terrestre, para o carro de triunfo do chacineiro romano. É o sistema penitenciário que substitui a ausência de educação. Tal é o Mistério: é preciso que a vida social devore a morte ou todas as causas da mortalidade coletiva. E assim que, mil anos depois de Zoroastro, Moisés repete: "Nosso Deus é um fogo devorador". A história militar, desde a Babilônia até nossos dias, não é mais do que o longo e doloroso comentário dessa não menos terrível palavra.
A observação prática e a experiência direta do Paganismo estão diariamente ante os nossos olhos. As pessoas, na infância e adolescência, passam pela família, depois ficam sob o crivo do estado político, usurpador do estado social e do seu poder de ensino. A instrução pública, assim erradicada, é a Arvore da Morte, cujas raízes estão no ar; o espírito anda com a cabeça baixa. Obtém da sociedade, representada pela família, uma moeda corrente de ouro vivo de boa e verdadeira cunhagem, marcada com J. C. (Jesus Cristo), e, por uma transformação inversa, recebe em troca uma moeda de cobre, também marcada com J. C, porém falsa (pois representa Julio César, pontífice e imperador dos pagãos).
A criança é uma página em branco, sobre a qual podemos escrever tudo, sobre o céu ou sobre o Inferno. É uma pequena e querida arvorezinha silvestre humana, na qual podem ser enxertadas todas as flores das árvores do Paraíso. À sua direita, existe um Anjo de Luz invisível, mas, à esquerda, há um Demônio preto. O Anjo contribui com os sete dons que irradiam do Espírito Santo Universal; o Demônio contribui com os sete dons tenebrosos do auto-espírito individual.
Temos, então, desde o berço, uma luta entre a revolução cristã e a reação pagã, e essa batalha invisível travada entre a Luz e as Sombras é visível na criança.
Somente quando se propõe realizar algum empreendimento, torna-se um indivíduo encantador, por exemplo: um verdadeiro sans-culotte (patriota da revolução francesa), que se considera o único, o bom, aquele que pode ser amado. Que faz, a sua maneira, a declaração dos direitos humanos... individualmente. Isso de imediato significa para sua jovem compreensão que os deveres são para os pais; porém, o Anjo está ao seu lado!


Como é cativante ver eclodir essas belas manifestações da primeira idade, esses esboços do livre pensamento, da liberdade de consciência, da livre ação com todas as suas conseqüências, do pote de balas degustadas secretamente, até as eólicas e as meias estragadas. Porém, o Anjo faz um sinal: a religião e a sociedade estão ali! Jesus é representado pelo pai; a Igreja, pela mãe; pois a profundidade do laço conjugai mede todo o comprimento da vida eterna. Assim, bem-aventurada a mãe, pois o Santo Espírito de Jesus vive nela, que com gosto assume todos os deveres do amor aos quais todos os jovens têm direito desde que nascem. E seu amor não quer asas, tão pesadas! Não quer liberdade, nem pensamentos, nem consciência, nem ação; quer apenas todas as correntes; seus fardos, como são leves!
Assim como o Divino Mestre, que lava os pés dos apóstolos, ela se dedica por completo à celestial servidão, à pequena árvore silvestre bem-amada. Jesus disse: "Aquele que quer ser o primeiro entre vocês, que seja vosso primeiro criado". Essas palavras do grande Pai Celestial só podem ser compreendidas pelas mães, porque elas possuem uma compreensão celestial: a do coração.


Insuflando-lhes seu espírito na alma e na vida dos seus filhos, ela quer que o seu rebento se tome a mais bonita das rosas do Paraíso humano e divino. Porém, no atual alvoroço deste mundo e principalmente do seu espírito, poucas jovens conseguem libertar-se dessa seráfica escravidão, e menos ainda conseguem resguardar seu clarividente amor, com os olhos vendados pela sua própria idolatria. É aí que começa o perigo temido pelo Anjo e aguardado pelo Demônio.
O berço, e depois o pequeno leito, é o centro da eterna epopéia épica da vida. Este pequeno ser sorridente é a maior e a mais grave das coisas que interessam ao mesmo tempo ao céu e à Terra, todo o presente, todo o futuro terrestre e celestial, não só de uma família mas de uma sociedade.
É por isso que o divino Mestre permitiu que se deixassem aproximar dele as crianças, e é por isso que ele disse: "O Reino dos Céus é para os que são semelhantes às crianças". Parecer-se com as crianças é saber escutar e entender. A criança, bem como a mulher, possui a verdadeira compreensão: a do coração; a criança escuta tudo o que a pessoa diz, mas só entende por meio do exemplo. Também o educador tem de praticar o que prega; caso contrário, ele só está instruindo sem educar, o que é bem pior do que deixar na ignorância. Pior, pois a escola da vida é o único ensino verdadeiro; todas as Universidades juntas não valem uma única humilde lição de vida.
O pequeno obreiro tem essa escola entre seus pobres pais, e é por isso que ele ultrapassa em grandeza de coração todas as classes eruditas de origem universitária. Dos sete dons negros do auto-espírito, apenas possui os dois últimos; por essa razão, não possui nada próprio, ou apenas poucas coisas, exceto suas afeições que são os bens de ser, mais do que ter, e os únicos verdadeiros.


Porém, a educação não deve limitar-se a saber viver no mundo, pois então seria simplesmente o saber de parecer e não o de ser, que é o verdadeiro saber da vida. O último sem o primeiro está embalsamado em grande profundidade; o primeiro sem o segundo é um pote de pomada: perfumado na superfície; embaixo é apenas ranço.
Encontra-se hoje em dia essa essência, esse espírito da vida? Raramente na alma dos Instruídos; todavia existe um pouco dessa essência entre os seres que possuem dedicação ou disciplina voluntária, sacerdotes e soldados de vocação; muitos entre as pessoas pobres, entre os que levam o peso do dia sem a certeza do amanhã, entre os cavalheiros do trabalho, que sobre suas costas carregam todo o peso do Paganismo contemporâneo. Porém, isso não deverá durar por muito tempo, graças aos eruditos, mendigos do sufrágio universal, esses cavalheiros da indústria política.
"É mais difícil um rico entrar no Reino de Deus que um camelo passar pelo buraco da agulha", disse Jesus. (O Buraco da Agulha era o nome de uma das portas da baixa Jerusalém.) A riqueza é tudo o que a pessoa tem de próprio, começando pela instrução; e, quando esta é falsa, quando a pessoa não acredita que é a simples detentora responsável ante Deus, não lhe vale nada, não lhe serve a riqueza nesse caso mais que para carregar o peso do Eu e inflá-lo. Quando o Nosso Senhor nos recomenda a simplicidade do espírito, entende ser a disponibilidade para a reflexão da vida, do coração para a cabeça; mas se a cabeça está entupida de coisas inúteis ou nocivas, ela é a maior contestadora, e sua reflexão estará fechada à incidência.


É por isso que não deveria haver qualquer instrução, salvo a elementar, ou toda a instrução possível dirigida à simplicidade, para a unidade, para a humildade da razão individual antes da incidência do Verbo-Deus na reflexão universal do homem.
Assim se manifestarão as três raças da verdadeira hierarquia terrestre e celestial, porém não devemos nos antecipar sobre o que haverá de vir, e voltemos à pequena criança mimada para a qual lhe é difícil a entrada para o Reino dos Céus. A mulher na igreja é a única educadora, o homem no Senhor é o único educador. A criança que não sente esta manifestação de amor e de sabedoria se torna o dono da idolatria paterna e materna. Pouco a pouco, seu pequeno raciocínio subordina o grande, sua pequena vontade domina a média, a pequena planta acaba suplantando todo o jardim e o jardineiro do Éden19 conjugal. De ano em ano, a mente da criança se colocará dentro de uma caixa de brinquedos para defender-se, uma arca de Noé cheia de ídolos, toda uma filosofia pagã para seu uso, e terá transformado rapidamente essa filosofia em imposições governamentais, primeiro com afeto e cortesia, depois quebrando tudo. O presente fica escurecido, o futuro será negro. O Demônio ri, a mãe chora, pois perde cada vez mais o controle das coisas e não sabe mais a quem recorrer. Em vão, invoca o braço da justiça paterna; ocorrendo a imposição de disciplinas, castigos, tapas, surras, uso do chicote, todo o arsenal da sabedoria de Salomão se mostra impotente lá onde a sabedoria desarmada do Evangelho teria conduzido tudo com perfeição.
O Anjo reza; corifeu20 das sete virtudes sociais, a piedade religiosa é a mãe da piedade dos filhos. O sacerdote vem socorrer a sacerdotisa materna. Conta com a ternura dela, porém lhe acrescenta a doce gravidade das primeiras duas raças, as do sacrifício, a sacerdotal e a real. Irradia de si o alento do Espírito Santo que exorciza o Espírito do Ego e no qual se retifica a mentalidade da criança rebelde. A mãe coloca seus joelhos acima de seu modelo, a Igreja; a catequização retoma sua obra indecisa, para não dizer comprometida. Começa a implantação divina no ponto em que haveria podido ter êxito quando o Verbo, por meio dos lábios maternais, ensinava a Palavra na sua fonte divina: a oração e o próprio Deus Vivo davam sua resposta por meio da jovem mulher com sorrisos, carícias, beijos, luz e calor da vida.
O catecismo é o ensinamento primário do Evangelho, é o melhor que poderia existir. Mas, onde está, ó!, o ensinamento secundário; o da segunda raça, superior ao primeiro? São indispensáveis nas idades viris, nas fases iniciáticas da vida, à iniciação e à condução dos indivíduos, e, para as suas Fraternidades, bem como para as Ordens de suas raças, para a condução das sociedades.


O Evangelho não possui mais do que uma única Luz, a da Vida Eterna, mas essa Luz tem muitos graus, da vela à lâmpada, da lâmpada à Lua, da Lua ao Sol vivente das existências e de seus espíritos.
Logo após a primeira comunhão, quando o infante sai pelas portas de ouro da Igreja, abertas sobre a Cidade de Deus, as portas de bronze do Universo se abrem, engolem-no e voltam a se fechar. Completada sua educação da vida, que está apenas começando quando a instrução da morte vem soprar por cima. Por trás das grades vigiadas pelo carcereiro, a criança vai descendo novamente os graus que tinha acabado de subir, mudando novamente sua alma e seu espírito. Então, os outros graus do abismo se abrirão ante esse jovem, que passa da puberdade para sua plena virilidade; a mente da sua alma sente pouco a pouco pesar sobre ela o espírito glacial, a morte; as políticas que ensinam aos mercenários do governo, em lugar do espírito cálido da vida; o social de todas as dedicações gratuitas.
O enxerto novamente murcha, a arvorezinha silvestre retoma seus direitos, a seiva dos sentidos usurpa a do coração, e, como não é mais exorcizado, o jovem espírito se levanta rebelando-se ou se debilita na constrição.


Mas aparece aqui a lanterna mágica do Paganismo que começa as projeções, suas evocações e, ó, suas reencarnações mortuárias, sobre uma atenta turma de jovens médiuns, almas vi ventes: Homero, Horácio, Virgílio, Demóstenes, Cícero, e depois todas as saturnais do individualismo filosófico e dos políticos, dos sofistas e dos retóricos, toda a Licantropia21 burguesa da loba romana, toda a Aigotropia medíocre do macho caprino grego.
Que possessão infernal se abate sobre as crianças! E como poderão resistir elas, se agora que têm a razão dos homens feitos, falta-lhes uma educação completa, falta-lhes um ensino integral, que controla cada uma das doutrinas para verificar nelas os erros ou as verdades à luz dos critérios objetivos, sobre os quais nos ocuparemos na segunda parte deste livro.