A geração e a anastomose oculta dos seres.

Louis Claude de Saint-Martin



Anastomose: Comunicação material ou artificial, entre dois vasos sangüíneos ou outras formações tubulares.
Se os poderes da Unidade Eterna são necessariamente um em seu engendramento, e a Essência Universal ou o Fruto que procede deste engendramento, necessariamente, os torna senão um, esta é, sem dúvida a razão fundamental do porquê desta sua geração ser oculta a nós, já que não podemos conceber este Fruto separado de Suas Fontes gerativas.


Mas, se por outro lado, há, necessariamente, uma união progressiva e gradual de toda a Unidade Universal com toda produção possível, que aparece diante de nossos olhos, não devemos nos surpreender, porque nunca fomos capazes de penetrar na geração das coisas, uma vez que, não só os poderes gerativos, nestas gerações parciais, também seguem a lei da Unidade, de acordo com sua ordem, mas até mesmo seus frutos se tornam um com estes poderes, diante do exemplo da Unidade Universal, ao menos na raiz, e no ato gerativo, embora, mais adiante, o fruto se desprenda de suas fontes gerativas, ao pertencerem às regiões de sucessão.


Vamos fazer uma pausa aqui para contemplar que coisa admirável e quão impressiva é esta profunda lei, que oculta a origem de tudo o que é produzido, mesmo daqueles que recebem ou adquirem esta origem! Sob este impenetrável véu, as raízes de todos os engendramentos estão intercomunicadas com a fonte Universal. E, somente quando ocorre esta anastomose secreta, e as raízes das essências recebem, no mistério, uma preparação vivificante, é que a substanciação tem início, e as coisas tomam forma ostensiva, cores e propriedades. Tal anastomose é insensível, mesmo no tempo, e se torna perdida na imensidade, no eterno, e no imutável, como que para nos ensinar que o tempo é somente a região da ação visível das coisas, mas que a região da ação invisível é infinita.


Sim, a Sabedoria e o Amor Eterno alimentam sua própria glória, e também nossa inteligência; eles parecem temer que acreditemos que nada teve um princípio, e que não há nada que não seja Eterno; já que, na verdade, nenhuma criatura, nem mesmo o homem, tem a mínima idéia de sua própria origem, a não ser a de seu corpo; e ele adquire este conhecimento muito mais pelo cansaço que este corpo ocasiona a seu espírito, do que pelos exemplos de sua reprodução, os quais testemunha diariamente; pois, de fato, nada pode ter um início (absolutamente) senão o mal e a desordem. E, como o Homem pertence à Unidade, ou ao Centro, que é o meio de todas as coisas, ele pode envelhecer em seu corpo, e nem ao menos acreditar que esteja no meio de seus dias. Assim, a origem oculta das coisas é uma expressiva evidência de sua fonte eterna e invisível, e sentimos que nada começa a não ser o mal e a morte, e que a vida, a perfeição e a felicidade nunca existirão se não existiram desde sempre.


O Ser Universal Se engendra ou Se revela em todo lugar, especialmente em nós.Isto confirma o princípio demonstrado por nós; se, em todos os exemplos dados, nada pode receber o nome de Espírito, senão pela presença do fenômeno de uma real e constante possível emissão, é muito provável que o Ser Universal deva portar o mesmo caráter, e portanto revelar à nossa inteligência a real e necessária plenitude de uma existência ininterrupta, sem começo ou princípio.


Feliz aquele que pode elevar seu pensamento a esta altura e o manter ali! Ele irá, desta forma, alcançar tal clareza de inteligência, o fundamento de tudo o que existe, na ordem das coisas invisíveis, assim como na ordem das coisas visíveis, lhe parecerá simples, ativo, permanente e, por assim dizer, diáfano; irá ver que o Ser Universal, através de sua viva e contínua Realidade, deve levar a todo lugar a luz e a limpidez da qual É o foco perpétuo.
Mas se quisermos assim considerar a Realidade viva e contínua deste Foco Supremo e Universal, em todas as coisas visíveis e invisíveis, o que ocorrerá quando a considerarmos em nós mesmos, e ver o que ela opera em nosso próprio ser? Pois, descobriremos uma notável diferença, no que diz respeito a nós, que é a seguinte: nós podemos, pela reflexão, observar prontamente tal realidade em todas as coisas individuais, mas também, na verdade, podemos senti-la, na Natureza e em nós próprios.


Sim, se por um único momento, penetrássemos as profundezas de nossa existência interna, sentiríamos rapidamente, que todas as Fontes divinas, com seu Espírito Universal, abundam e fluem na raiz de nosso ser, que somos um constante e perpétuo resultado do engendramento de nosso Princípio, que ele esta continuamente em sua realidade conosco, e assim, após a definição que demos de Espírito, podemos ver facilmente, como um ser, capaz de sentir em si a ebulição da Fonte Divina, tem direito ao nome Homem Espírito.

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