Os Conventos Martinezistas

Papus


Em 12 de agosto de 1778, Willermoz anunciou o Convento de Gaules, realizado em Lyon entre 25 e 27 de dezembro do mesmo ano. Esse convento tinha como objetivo apurar o sistema escocês e destruir todos os maus germens introduzidos no sistema pelos Templários. Sob a influência dos Iluminados de todo o País, saiu dessa reunião a primeira condenação do plano de vingança sangrenta, preparado em silêncio dentro de certas lojas. O resultado dos trabalhos desse convento está contido no Novo Código das Lojas Retificadas da França, mantido em nossos arquivos e publicado em 1779. Para se compreender o grande esforço realizado no sentido da união dos maçons, é necessário lembrar que o mundo maçônico estava em plena anarquia.

O Grande Oriente da França fora fundado em 1772 graças à usurpação da Grande Loja por Lacorne e seus seguidores, dirigidos ocultamente pelos Templários. Estes, após terem estabelecido o Capítulo de Clermont, foram transformados em 1760 em Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente; em 1762, em Cavaleiros do Oriente, entrando, finalmente, no Grande Oriente através de Lacorne.

Graças à sua influência, o sistema de lojas foi profundamente modificado; em todos os lugares o regime parlamentar, realizando eleições de seus oficiais, substituiu a antiga unidade e autoridade hierárquica. Com a desordem causada em todas as partes por essa revolução, os Martinistas intervieram para trazer a todos a reconciliação. Eis a razão desse primeiro convento de 1778 e de seus esforços para impedir as dilapidações financeiras que se faziam em toda a parte.

Encorajado por esse primeiro sucesso, Willermoz convocou, a partir do dia 9 de setembro de 1780, "todas as grandes lojas escocesas da Europa ao Convento de Wilhemsbad, perto de Hanau" (5). O Convento de Wilhemsbad foi aberto em uma terça-feira, no dia 16 de julho de 1782. Desse convento saiu a Ordem dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa de Jerusalém e uma nova condenação do sistema Templário.

Como se observa, o Willermosismo tendeu sempre ao agrupamento de fraternidades iniciáticas. Não tem razão quem pensa que Willermoz tenha abandonado as idéias de seus mestres; pensar isso é conhecer mal seu caráter elevado. Sempre até a morte, quis estabelecer a Maçonaria sobre bases sólidas, dando como objetivo a seus membros a prática da virtude e da caridade; mas sempre procurou fazer das lojas e dos capítulos centros de seleção para os grupos de Iluminados. A primeira parte de sua obra era clara, a segunda oculta; é por isso que as pessoas mal informadas podem não ver Willermoz sob sua verdadeira personalidade.

Após a tormenta revolucionária, tendo seu irmão Jacques Willermoz sido guilhotinado, com todos os seus iniciados, havendo ele próprio escapado por milagre da mesma sorte, foi ainda ele quem reconstituiu na França a Franco-Maçonaria espiritualista, graças aos rituais que pôde salvar do desastre. Tal foi a obra deste Martinista, a quem consagraremos um volume, tão logo quanto possível, se Deus o permitir.