Guilherme Marechal da Inglaterra, o melhor cavaleiro do mundo


O rei Felipe Augusto da França tinha a Corte reunida na região do Gâtinais quando lhe chegou a nova da morte de Guilherme, a quem muito apreciava.

Em companhia de seus parentes e dos principais barões, acabava de jantar. Os senhores de posição inferior, que haviam servido a mesa, começavam a comer. Entre eles se encontrava Ricardo, o segundo filho do Marechal.

O Rei teve a gentileza de esperá-lo terminar a refeição. E depois, perante a assembléia atenta, voltou-se para Guilherme de Barres, seu amigo: "Ouviste o que me disseram?
O que disseram a Vossa Alteza?
Por minha Fé, vieram-me dizer que o Marechal, que foi tão leal, está enterrado.
Que Marechal?
O da Inglaterra, Guilherme, valoroso que foi, e sábio. Em nosso tempo não houve em lugar algum melhor cavaleiro e que melhor soubesse manejar as armas.
O que dizes?
"Afirmo, e Deus me seja testemunha, que jamais conheci melhor cavaleiro que ele em toda a minha vida".

Guilherme de Barres sabia do que estava falando: ninguém se lhe igualava em valor na Corte da França, ou seja, no mundo inteiro. Na sua idade madura, havia rivalizado em valentia com o Conde Marechal; às portas de São João d'Acre batera-se com o próprio Ricardo Coração de Leão. Cabia-lhe conferir ao falecido o primeiro lugar da honra militar.

O Rei Felipe que, por seu oficio, presidia o conselho e sabia quanto valia a amizade varonil, cimento do Estado feudal, coroou-o por outro critério, o da lealdade: "O Marechal foi, a meu juízo, o homem mais leal e autêntico que já conheci, em qualquer 1ugar que fosse".

Finalmente, João de Rouvray, um dos que mais perto estiveram do Rei em Bouvines, e que com Guilherme de Barres e os amigos de juventude guardava o corpo real, comemorou a prudência:

"Alteza, julgo que foi ele o mais sábio cavaleiro que se viu, por toda a parte, em nosso tempo".

Escorada nas proezas, sustentada de um lado pela lealdade, de outro pela prudência, aqui temos a Cavalaria, a mais exaltada Ordem que Deus criou. Nesse tribunal de valor e valentia reunido em torno do Rei Capeto, primeiro lugar-tenente de Deus na terra, Guilherme Marechal, mais valoroso, mais leal e mais sábio, assim foi proclamado o melhor cavaleiro do mundo.
(Fonte: Georges Duby, Professor no Collége de France, Edições Graal Ltda, 2ª edição, Rio de Janeiro, 1988, pp. 36-38).