SEFER HÁ-ZOHAR - O LIVRO DO ESPLENDOR
Segunda parte


O Conteúdo do SEFER HÁ-ZOHAR

O Zohar é fonte de inspiração e sabedoria para os iniciados que ousam adentrar seus segredos. Seus principais focos são a teosofia - a interação das sefirot e seus mistérios, a conduta humana e o destino dos buscadores das verdades eternas neste mundo bem como no mundo não material. São raras as ocasiões em que discute de forma explícita a meditação ou a experiência mística.

Ao penetrar na superfície literal da Torá, O Livro do Esplendor revela as profundezas místicas de suas histórias, leis e segredos. Transforma a narrativa bíblica em uma "biografia do Criador". Toda a Torá é lida como permutações de Nomes Divinos. Cada uma de suas palavras ou de suas mitzvot simbolizam algum aspecto das sefirot - que apresentam as maneiras pelas quais O Criador interage com Sua Obras. O Zohar revela que o real significado da Torá reside em sua parte oculta, chamada de nistar e em seus segredos místicos.


Mas esta obra grandiosa não trata apenas de assuntos esotéricos e místicos. Não há uma única preocupação sobre a existência humana que permaneça intocada em suas páginas. Apesar da aura de mistério que a cerca, muitos de seus ensinamentos têm servido de guia para várias gerações de estudantes sinceros.

De um lado, o Zohar se aprofunda nos maravilhosos mistérios da alma e do Criador; do outro, aborda assuntos como o poder do mal.


Alicerçado principalmente na Torá, o Zohar é uma obra imensa, dividida em três trabalhos principais que são, por sua vez, subdivididos em outros segmentos. Trata-se principalmente de uma exegese, uma dissertação de homilias, e suas idéias emergem através de comentários e discursos. Nele estão as interpretações místicas e os comentários das sidrot , as leituras semanais da Torá. A obra não se restringe aos Cinco Livros de Moisés; também aborda outros livros da Torá, inclusive o Cântico dos Cânticos, o Livro de Ruth e as Lamentações. Não cabe enfatizar em demasia que a Cabalá é a parte secreta da Torá e, portanto, não poderia ser estudada ou seguida à parte da Torá revelada. Acreditar ou estudar a Cabalá sem o respaldo da Torá Escrita e Oral é, no mínimo, incongruente, pois não há um único trabalho cabalístico que não contenha citações dos 24 livros da Torá escrita, do Talmud e d Midrash, portanto o estudante sério que deseja realmente se aprofundar na cabala, deve conhecer com razoável profundidade os livros hebraicos, mesmo o sendo o Martinismo essencialmente Cristão.

Assim como o Talmud, o Zohar cobre todas as manifestações do espírito judaico. Porém, enquanto o primeiro é essencialmente uma obra sobre a Lei Judaica, com pitadas de misticismo, o segundo é principalmente um trabalho místico que aborda e elabora sobre algumas leis do Torá. O Zohar descreve a realidade esotérica subjacente à experiência cotidiana. Nele, temas e histórias, tópicos legais e assuntos litúrgicos são vistos e expostos através de uma interpretação mística.

Um breve histórico

Como vimos na primeira parte deste artigo, os ensinamentos da Cabalá começaram a assumir uma forma estruturada através do Livro do Esplendor, de Rabi Shimon bar Yochai. Segundo o Talmud, após Ter fugido das autoridades romanas que queriam matá-lo, Rabi Shimon e seu filho, Rabi Elazar, esconderam-se em uma caverna nas montanhas da Galiléia. Pai e filho lá permaneceram durante treze anos, dedicando-se completamente ao estudo da Torá. Certamente Rabi Shimon já havia sido exposto aos ensinamentos místicos judaicos. Mas, enquanto estavam na caverna, ele e seu filho foram visitados pelas almas de Moisés e do profeta Eliahu, que lhes revelaram muitos outros preceitos cabalísticos. É possível que outros sábios, antes e depois dele, também tenham tido os dons intelectuais e espirituais para transmitir os ensinamentos da Cabalá. Mas foi Rabi Shimon, devido à sua luz, à pureza de sua alma e aos seus méritos, o escolhido pelo Criador para fazê-lo, segundo é claro a mística hebraica.

Como atesta a própria obra, coube a Rabi Abba, um dos alunos de Rabi Shimon, a tarefa de registrar por escrito os ensinamentos de seu mestre. Parte do Zohar não foi transcrita na época; foi preservada e transmitida de forma oral pelos discípulos de Rabi Shimon, conhecidos como "a Chevraiá".

Mas apesar de transcrito, ainda não havia chegado a hora de ser divulgado o seu conteúdo. Segundo a tradição, seus manuscritos originais ficaram escondidos durante mil anos e foram descobertos apenas no século XIII. Durante as décadas de 1270 e 1280, estes manuscritos ficaram restritos a círculos cabalistas. Finalmente, chegaram as mãos de um místico judeu espanhol, Rabi Moshé de Leon (1238-1305), que os editou e publicou na década de 1290.

Por que teria essa obra magna permanecida escondida por tanto tempo? O próprio "Livro do Esplendor" revela a razão ao afirmar que sua sabedoria e luz seriam reveladas como preparação para a Redenção Final, que deveria ocorrer 1.200 anos após a destruição do Templo Sagrado. E é exatamente o que aconteceu! O Grande Templo de Jerusalém foi destruído no ano 70 d.C., o que significa que, segundo as previsões do Zohar, se conteúdo deveria ser revelado no ano de 1.270.

O estudo da Cabala floresceu na Espanha e na Provença, mas até a expulsão dos judeus da Península Ibérica, o Zohar só era conhecido no meio de restritos círculos de sábios e cabalistas. Após a expulsão, ele emerge desses círculos e passa a exercer uma grande influência sobre os judeus Sefaraditas. Perseguidos e expulsos, os judeus da Espanha encontraram em seus ensinamentos sobre a Redenção Messiânica uma grande fonte de conforto e esperança e tanto a obra como seu autor passaram a ser reverenciado por eles. Até hoje, o Zohar está presente no dia-a-dia dos judeus dessa origem, pois seus ensinamentos moldaram grande parte de suas tradições e seus costumes religiosos.

Muitos dos cabalistas forçados a sair da Península Ibérica se estabeleceram na cidade sagrada de Safed, em Israel, que se tornou um centro de estudos místicos. Em Safed, o Sefer há'Zohar serviu de base para os ensinamentos de dois dos maiores cabalistas, ambos sefaraditas, da era moderna: Rabi Moshe Cordovero (falecido em 1570), conhecido como o Ramak: e o grande Rabi Yitzhak Luria (1534-1572),o Arizal.

Foi em Safed que o Arizal transmitiu seus conhecimentos sobre o Livro do Esplendor e a Cabalá. Desenvolveu um novo sistema para a compreensão de seus mistérios, chamado de Método Luriânico. Seus ensinamentos são reconhecidos como a autoridade máxima da Cabalá, tendo sido estudados pelas gerações de cabalistas que o seguiram. A partir de seus ensinamentos, a Cabalá se tornou mais acessível e passou a ser disseminada por sábios e místicos judeus. O próprio Arizal afirmara que havia chegado a era na qual não só seria permitido revelar a sabedoria da Cabalá, mas tornar-se-ia uma obrigação fazê-lo.

Mas foi na primeira metade do Século XVIII, com o surgimento do chassidismo, como passou a ser chamado o movimento iniciado no leste da Europa pelo Rabi Baal Shem Tov, que a Cabalá que fora ensinado pelo Arizal passou a atingir um número ainda maior de buscadores. A principal contribuição do chassidismo foi sua adaptação da doutrina da Cabalá a uma linguagem cotidiana e de fácil compreensão. Desta maneira, a profunda sabedoria de Rabi Shimon bar Yochai passou a influenciar as massas de judeus asquenazitas do leste Europeu. Com a expansão do chassidismo, os ensinamentos do Zohar passaram a influenciar um número cada vez maior de pessoas.

A santidade da obra

Chamada também Há'Zohar há-Kadosh, O Sagrado Zohar, esta obra é envolta por uma aura de suprema santidade. Sua natureza misericordiosa e seu conteúdo inacessível só acrescentaram reverência ao respeito que provoca entre judeus e não-judeus. Como vimos anteriormente, o Zohar é a suprema autoridade no campo do misticismo, é a face mística da Revelação Divina manifestada por meio da Torá. Em termos de santidade, o Zohar foi posto em um nível maior do que o Talmud, pois enquanto as leis deste último representam o corpo da Torá, os mistérios do Zohar representam sua alma. Mas o "Livro do Esplendor" nunca se opõe à autoridade do Talmud nem às suas leis. Assim como alma e corpo dão interdependentes; apenas quando unidos e em harmonia podem proporcionar uma vida significativa. Da mesma forma, o Zohar e o Talmud não podem cumprir sua missão, nem sobreviver de forma separada e sem uma mútua interligação.



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