A ORDEM DA REGENERAÇÃO DO HOMEM
Por Saint Martin o Filos.: Desc.:


Vemos que em nosso corpo material freqüentemente sentimos dores nos membros que perdemos; ora, no que constitui nossos verdadeiros corpos, não possuímos um único membro, a primeira evidência que podemos ter de nossa existência como seres espirituais, é sentir sucessivamente ou de uma só vez, dores agudas em todos aqueles membros que não temos.


A vida deve regenerar todos os órgãos que perdemos e isto só pode ser realizado através da substituição destes órgãos pelo seu poder gerativo, no lugar daqueles estranhos e frágeis órgãos que agora nos constituem.


Devemos sentir o espírito nos arranhar da cabeça aos pés, como se tivesse uma potente relha, arrancando os troncos de velhas árvores com suas raízes entrelaçadas em nossa terra, e todas as estranhas substâncias que nos impedem de crescer e fertilizar.


Tudo o que nos adentrou pelo charme e pela sedução, deve sair pela rendição e pela dor. Ora, o que nos tem adentrado nada mais é do que o espírito deste próprio Universo, com todas as suas essências e propriedades; elas tem frutificado em nós abundantemente; em nosso interior, elas tem se transformado em sais corrosivos e temperamentos corruptos, além de se coagular a tal ponto que nada além de remédios fortíssimos e trabalho excessivo poderá expulsá-las.


OH, Homem! estas essências e propriedades do Universo tem tomado posse de todo o teu ser; por esta razão, as dores vitais da regeneração devem ser sentidas em todo teu ser, até que estas falsas fundações e fontes de seus erros, suas trevas e sua angústia, sejam substituídas pelo espírito e essência do Universo primitivo e real, denominado por Jacob Boehme de Elemento Puro, do qual se pode esperar frutos mais doces e saudáveis. Pois, considerando simplesmente sua situação física neste mundo, não se pode duvidar que a base destas dores estão em ti mesmo, e estabelece sua existência nos desejos diários que te fazem sentir e nas incessantes preocupações que te proporcionam.


Assim, vemos todos os seus dias consumidos pela tentativa de te tornar superior ao frio, calor, escuridão e até mesmo as estrelas do céu, que você parece dominar com suas audaciosas ciências através de seus instrumentos ópticos e astronômicos.


Isto prova, claramente, que seu lugar não deveria ter sido o da região destas inclemências e nem deveria estar sujeito a influências que te desconfortam; não deveria nem mesmo ter sido abaixo daquelas esplêndidas criações que apesar de sua magnitude na ordem dos seres, devem figurar depois de ti.
Como estes elementos estranhos tem sido plantados na sua natureza mais interior, é ali que as dores reais devem ser sentidas; é ali que devem ser desenvolvidos os reais sentimentos de humilhação e constrição, que nos fazem estremecer ao nos depararmos conectados com essências tão incompatíveis a nós. Lá, na tua mais íntima natureza, é que se deve progredir lentamente neste mundo, como numa estrada entre sepulcros, onde não se pode dar um passo sem ouvir os mortos clamarem a ti pela vida.


Lá, por meio de teus gemidos e sofrimentos, se obtém recursos para oferecer o sacrifício, no qual o fogo que vem do Senhor não pode deixar de descer, para de uma só vez, consumir a vítima e dar vida nova ao sacrificador, provendo-o com poderosa assistência ou com virtudes renovadas continuamente, para a execução de sua obra universal, pois, através desta substância ativa e humilde de nosso sacrifício unida a nós, é que se dá o início de nossa regeneração; os sofrimentos purificantes dos quais falamos, só podem ser o início desta regeneração, enquanto que o seu fim é cortar o que é prejudicial a nós, mas não o de dar o que queremos.


Quando nos sentirmos todo despedaçados por estas dolorosas amputações e o sangue correr por todas as feridas, então o bálsamo curativo vem estancá-las, aplica-se em nossas chagas e se injeta em cada canal.
Ora, como este bálsamo traz a vida propriamente dita, logo nos sentiremos renascidos em todas as nossas faculdades, virtudes e em todos os princípios ativos de nosso ser. Todos estes princípios ativos de nosso ser estão tão oprimidos pelo peso do universo e tão secos pelo fogo que os queimam internamente, que eles esperam, com uma ávida impaciência, pelo único revigorador que pode restaurar seu movimento e atividade.
Este revigorador se acomoda à nossa pequenez. Ele aparece de forma tênue no homem que é débil e pequeno; assim, ele conduz seu amor e cuidados a nós, a fim de se tornar pueril conosco, pois somos menos que crianças e geralmente a cada ato de nosso crescimento, ele tem que estar ao nosso lado passo a passo.
Ele age em relação a nós, como uma mãe em relação a seu filho que tem feridas ou sofrimento; ela aplica todos os seus pensamentos na tentativa de curá-lo; ela se atira, por assim dizer, inteiramente a estas feridas ou membros sofredores, participa deles como se ela mesma estivesse tomando a forma e substituindo aquelas feridas ou machucados de seu filho; esta mãe se deixa levar, de tal forma, pelo esforço de seu amor criativo que nada é tão difícil, nada é tão pequeno para essa laboriosa ternura; o que quer que possa fazer bem, lhe parece ser necessário.


Estes vários meios de cura, específicos para cada necessidade, estão em atividade nas linguagens de cura guiadas pelo verdadeiro Verbo. As maravilhas encontradas nelas contém maior ou menor atividade que é mais apropriada ao tempo em que apareceram. Embora este revigorador, sem o qual adoecemos, possa entrar em nós diretamente, não despreza a possibilidade de entrar por várias maneiras e as linguagens de cura, com todas as suas denominações e modos de expressão, são um dos meios a que mais se inclina e faz uso preferencialmente.


Não é surpresa a necessidade deste poder ativo e vivificante entrar em nós para nos preparar para a realização de suas obras. Aqueles que conhecem o real estado das coisas, compreendem que devemos estar vivos e fortes para realizar tal obra ou para que ela seja realizada em nós, pois o mal não é uma mera ficção, é um poder.


O reino do mal não deve ser destruído por discurso erudito, tanto na natureza ou no espírito dos homens. Os Homens e os doutores podem discursar à vontade, o mal não será afugentado desta maneira, ao contrário, progredirá sob este respaldo.

 

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