A FAMÍLIA WILLERMOZ


Quem era Jean Baptiste Willermoz? Nascido a 10 de Julho de 1730 em Lyon, e falecido na mesma cidade após 94 anos, em 29 de Maio de 1824, era o menor de uma família de treze irmãos, dos quais somente três figuraram na história maçônica (nada sabemos acerca dos outros, exceto de um deles que, ao que parece, foi clérigo)

1° - Sua irmã maior, a futura Sra. Provensal, com a qual se manteve estreitamente ligado em toda a sua vida. Tornou-se viúva logo após poucos anos de seu casamento, e cuidou dos afazeres domésticos ao longo de toda a longa vida celibatária de Willermoz até seu matrimônio, contraído em 1796 com uma
órfã chamada Jeanette Pascal. É digna de nota a diferença de idade entre Willermoz e Jeanette: ele tinha 65 anos, e ela, somente 24. A estreita relação entre os dois irmãos durou até o falecimento da Sra. Provensal em 1810, e todos aqueles que freqüentaram o lar de Willermoz ou nele residiram por alguns
dias guardaram-na em saudosas recordações, como é o caso de Saint-Martin e de muitos outros. Privilegiada confidente de Willermoz, nada lhe ocultava, ao contrário: com ela compartilhava tudo, tendo até mesmo estimulado-a a entrar na "Ordem dos Sacerdotes Eleitos" de Martinez de Pasqually, onde foi recebida como "Mestre Cohen", já que esta Ordem admitia mulheres.


2° - O futuro doutor Pierre-Jacques Willermoz (1735-1799), guilhotinado em 28 de novembro de 1793

3° - E, finalmente, Antoine Willermoz (1741-1793), executado durante o Terror que se seguiu à tomada de Lyon pela Convenção depois que a cidade se sublevara para defender os Girondinos. Dos dois irmãos mencionados parece ter sido Pierre-Jacques o mais próximo a Jean Baptiste. Não obstante, ambos estiveram associados - quer se queira ou não, tudo leva a crer que Willermoz tinha uma forte personalidade dominadora, para não dizer despótica - em seus empreendimentos maçônicos e paramaçônicos. Para finalizar a discussão acerca de seu ambiente familiar devemos dizer que o casamento de Jean Baptiste Willermoz, aparentemente desequilibrado (pois havia quarenta anos de diferença entre os cônjuges, ainda que tal tipo de situação não fosse rara naquele tempo), trouxe-lhe grandes pesares. Não por ter sido infeliz em sua vida matrimonial, muito pelo contrário; mas sim pelo fato de, ao final de sete anos, em 1804 (Willermoz tinha então 74 anos), a Sra. Willermoz ter dado a luz à uma menina que viveu
somente alguns dias; no ano seguinte deu a luz à um filho; posteriormente, em 1808, um parto prematuro lhe tirou a vida. Assim, "depois de doze anos de felicidade sem queixas" (segundo suas próprias palavras), Willermoz tornou-se viúvo aos 78 anos de idade, tendo sob sua responsabilidade um filho de 3 anos (que havia nascido em 20 de Setembro de 1805), em quem depositou todas as suas esperanças.

Tendo em vista a instrução futura de seu filho, Willermoz redigiu importantes documentos naquele tempo: nove cadernos classificados em seus arquivos sob o seguinte título geral: "Instrução secreta e particular a meu filho, para ser-lhe comunicada quando atingir a idade de perfeita maturidade e caso venha a demonstrar ser digno de recebê-la" (atualmente, tais instruções encontram-se no fundo Kloss da biblioteca do Grande Oriente da Holanda, em Haia). Estes textos, nos quais Willermoz expõe suas concepções religiosas e metafísicas - as quais, como veremos, estão estreitamente ligadas - são de um interesse capital, pois estão escritas de modo aberto, sem ter seu pensamento disfarçado para satisfazer a política maçônica.

No dia 23 de Outubro de 1812 o pequeno Jean Baptiste-François de Sales-Claudius, que parecia cheio de vida (em uma carta datada de 10 de Setembro de 1810 a Charles de Hesse, Willermoz o descrevia como "muito bem constituído"), morre subitamente com apenas 7 anos de idade. Que golpe para este ancião de 82 anos que, em um espaço de quatro anos, havia perdido sua querida esposa, sua não menos querida irmã, e seu filho, "a menina de seus olhos", como ele costumava dizer. Entretanto, sólido como uma rocha, desconhecendo qualquer enfermidade - salvo um tremor nervoso em suas mãos que havia aparecido aos 70 anos e que foi-se agravando a ponto de deixá-lo praticamente incapaz de escrever por si mesmo, e obrigá-lo a recorrer aos bons serviços de seu sobrinho - sobreviveu ainda mais doze anos até a idade avançada de 94 anos.

A partir daquele momento, já sem descendência direta, voltou seu afeto e suas esperanças, principalmente maçônicas, a seu sobrinho, filho de Antoine, que deveria ser seu afilhado, posto que também se chamava Jean Baptiste. Este lhe serviu freqüentemente como seu secretário: por exemplo, foi ele quem redigiu, sob ditado de seu tio, a longa carta datada de 10 de Setembro de 1810 a Charles de Hesse, pela qual retomou contato após 15 anos, carta esta na qual dá notícias (preciosas para nós) do Regime Retificado na França: "Minha mão, depois das fortes sacudidas morais que tenho sofrido, me nega seu serviço para escrever qualquer texto de forma contínua. Estou obrigado a tomar os préstimos de meu sobrinho (a Lilio Albo), filho de meu irmão (a Concórdia), para escrever sob meu ditado; sendo Cavaleiro e Grande Professo, é o único com o qual posso contar para meus escritos confidenciais; porém, encontrando-se ocupado em seus assuntos durante todo o dia, pode me dedicar somente alguns poucos momentos, esporadicamente, e sempre demasiadamente curtos". É fácil de se perceber que o sobrinho de Willermoz não tinha realmente a fibra maçônica, e é de se supor que ele havia aceitado ser iniciado em todos estes segredos somente para agradar a seu tio. É certo que Willermoz se frustrou em suas esperanças, visto que seu herdeiro maçônico foi Antoine-Joseph Pont (filho de um amigo de seu irmão Antoine, iniciado por Willermoz juntamente com seu sobrinho Jean Baptiste, tendo sido os únicos iniciados por Willermoz após a Revolução Francesa). Willermoz fez de Antoine-Joseph Pont o legatário de todos os seus arquivos e documentos. Para finalizar estes comentários acerca da família de Willermoz e então passar à sua vida profissional é necessário dizer algumas palavras acerca de seu pai. Claude-Catherine Willermoz, oriundo de Saint-Claude, no futuro departamento do Jura, havia emigrado a Lyon no princípio do século e exercia a profissão de "comerciante de miudezas". Os Willermoz foram, pois, influenciados por esta "atmosfera lyonesa", de onde provieram as características que se revelaram no caráter de Jean Baptiste: obstinação, gosto pelo secreto, talento para tratar com pessoas, senso para negócios e para relacionamentos.

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